domingo, 15 de agosto de 2010

Sopro de Deus





Hoje o sol me parece tímido e um ar frio me franze a pele.

Do lugar do meu olhar o mundo é jardim.

Sinto saudade de tudo que amo,

Pois transporto na solidão a adaga da lembrança.

Da janela espreito a rua enquanto os dedos teclam o não-pensado.

Poesias nascem do coração e às vezes apenas combinamos palavras.

Um poeta é um cozinheiro que por intuição mistura sabores.

Sou um poeta que mistura sabores para que outros se deliciem.

Não sei o que o dia me reserva para hoje,

Mas sinto que hoje será melhor que ontem.

A ducha quente estava boa,

A barba feita exala o perfume que dá o aroma ao colorido que me rodeia.

O silêncio me faz transcender aos cuidados daqui,

Ainda revolvo-me com as preocupações de lá.

Penso que o tempo é como uma máquina de moer grãos,

Tritura a tudo que se chama espera.

Não consigo enxergar além do desejo,

Uma neblina de incerteza me impede de ver certamente.

Certamente quem vê? Só Deus.

É com ele que me afino agora para sentir o seu sopro.

Quero ir para a direção que Ele sopra.

Não quero de novo desprezar minha vocação eólica.

Quem é nascido do Vento (Espírito - Ruach) é vento.

Eu nasci do Vento e Dele depende a minha existência.

Para onde iria eu?

O Vento sopra onde quer e ouve-se a sua voz,

Não sabe de onde vem nem para onde vai.

Assim, é todo aquele que é nascido do Espírito.

Quero a parturição do Espírito.

Quero sair da mesmice,

Quero novos rumos e novas possibilidades.

A minha alma farta, farta-se das coisas que insistem em serem as mesmas.

Sopra Vento! Sopra forte!

Leva-me para longe de tudo que me acomoda à mediocridade.

Tens a minha licença. Sopra! Mas assopra forte!

Transporta-me numa pipa,

Conduz-me num balão,

Quem sabe numa bolha-de-sabão,

Guia-me sobre uma penugem,

Dá-me o meu destino numa melodia leve.

Leva-me, pois a saudade já não me mata mais.

Leva-me, pois, um poeta não subsiste sem a saudade.

Leva-me para tudo que a tua alma deseja que eu seja e toque com o olhar.

Leva-me antes que o dia se acabe e o amor feneça na escuridão do agora.

Leva-me, eu imploro!

Não sabes que se me deixares aqui eu morro?

Sinto uma doce brisa que passa secar as minhas lágrimas.

Enquanto sonho,

Enquanto amo,

Enquanto tudo em mim se chama esperança.

Leva-me, pois aqui o meu nome é resistência.

É resiliência.

Sopra Vento!

Eu imploro, sopra!

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