sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Eu, Entre Abismos



A vida é um caminho que esconde abismos.

A gente nunca sabe onde eles estão e porque.

Há abismos entre o céu e a terra,

Há outros nos mares,

O ser é abismo como abissal é o silêncio.

Mas, estes, não são mais profundos que os do coração.

Os meus abismos são profundos demais para explicar.

Crateras se abrem entre o olhar e os sonhos.

O tempo é abismo,

O medo também o é.

Infindos são os dias e a fé é ponte entre abismos.

Eu queria ser fleumático, para não sofrer tanto ante os contrastes,

Porém, isto é íngreme o bastante para mim,

E os meus pés escorregam para um poço sem fundo.

Desejei ser colérico, para afoito me lançar sobre tudo e todos,

No entanto, a minha alma rejeitou friamente tal façanha.

Não sei ser outra coisa senão uma doce mistura;

Em mim transporto a fusão,

Sou portador de dois mundos,

Universos paralelos que me habitam o ser.

O sanguíneo em mim habita as estrelas e me faz voar por ai,

O melancólico em mim esconde-me em cavernas e grutas da

Alma, enquanto verto na face lágrimas.

Combato dia e noite contra mim mesmo,

Esmurro-me e venço-me às vezes,

Mas, quando me dou conta, vejo-me andando em voltas,

No circuito de mim mesmo.

Serei o único nessa desventura?

Se não me basto, do que importa os outros?

Quando criança eu queria ser aviador ou fuzileiro,

Não tornei-me nenhum nem outro,

Fiquei no meio do caminho cuidando das almas,

Sou pastor de ovelhas e lido com rebanhos.

Todo pastor é poeta por ser sensível.

Sua alma migra para o além sem desprezar as coisas de aquém.

Todo poeta é pastor de sua própria alma,

É cantor de suas próprias intrigas.

Pastor das idéias e das palavras,

Porque lida com o cuidado das duas coisas.

Eu queria ser só sanguíneo,

Pois, tocaria os meus dias solfejando alegres cantos,

No entanto, minha melancolia despedaça as partituras;

Encosta meus instrumentos de melodias infindas,

E no juazeiro a beira da estrada pendura a minha viola.

Essa é a minha ambiguidade,

Dialética em mim, que nasce, morre e renasce todos os dias.

Eu queria ser diferente, meu senhor,

Mas, a raiz de mim é híbrida e plantada em chão profundo.

Aos que me amam rogo paciência,

Aos que toleram não rogo nada: apenas sou eu mesmo, como sou.

Vou indo para o porto desejado: espera que nunca acaba.

Cindido,

Sem resposta,

Apenas fazendo o caminho caminhando.

Tentando alegrar a outros como eu,

O quais vivem fendidos,

Entre abismos, na bifurcação de si mesmos.

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