quinta-feira, 14 de maio de 2009

Aboios de Mim



Fui menino nas ruas de outrora,
Toquei canções na estrada que passava a boiada,
Aboios de uma alma ainda em construção,
Percutia em latas a força que ruía o silêncio rua afora.

Meninos cantarolam enquanto tecem a vida,
Vida que passa silente, sem pressa,
Vida que às vezes, caminha no passo do gado.
Fui menino na rua do sossego e nela senti o peso da espera.

Gravetos e latas soavam altissonantes nas mãos de futuros poetas,
Enquanto a alma eclodia em canções de amor e na vida que escorria entre Os dedos em dias frios de invernos infindos,
No tempo em que a ingazeira silenciosamente dava o seu fruto.

A música nascia em mim como afloram as raízes das nuvens,
Tudo em mim era poesia e a soma dos anos me robustecia.
Cantei a muitos poetas, melodias belas de quem sonha alto.
Decantei minha existência numa tênue forma de prosa e verso.

Não sou mais um menino, mas, o som das latas ainda ecoa em mim,
Os instrumentos mudaram e as melodias também,
Eu mudei, o mundo mudou, as pessoas mudaram,
Mas, a memória, esta sim, insiste em manter vivas as lembranças do que fui.

Hoje ainda habita em mim o garoto tocador de latas;
As ruas já não são mais as mesmas,
A boiada já não passa mais por aqui,
Mas, meus aboios meu senhor, ainda ecoam aqui e ali nas velhas estradas da minha alma.

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