quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Evangelho




O evangelho é semente que há de nascer nova em qualquer lugar que haja sinceridade.
A pá limpa a eira e o machado já está posto na raiz da árvore.
Não haverá seiva se a raiz for cortada do chão.
Não haverá frutos,
Nem folhas nem nada.

O evangelho é tesouro em vaso de barro,
Ato inventivo de um Deus que sabe amar.
A religiosidade de hoje é mera distração.
Precisamos de um Deus que nasça de novo,
Para perfilar o Cristo no velho homem que teima empedernido.

O fato é que Deus não tem problema em nascer de novo, nós sim.
O evangelho é uma estrada encoberta longe dos interesses dos homens,
Poucos são os que passam por ela.
Evangelho é vereda antiga, senda dos que sabem a dor do caminho que ruma para a porta estreita.

O evangelho não é fim, é começo, é recomeço.
É a teima de um Deus que busca ser amado por quem ignora-o.
Evangelho é encarnação, vida, morte e ressurreição do Deus que deseja
Ardentemente amar e ser amado.

No evangelho Deus reinventa-se na poesia da cruz.
Toma a sicuta,
Faz de tudo para chamar a atenção.
O evangelho é a dor do amor de Deus.
Deus sofre enquanto ama.
Deus morre,
Deus grita,
Deus renasce,
O evangelho é esse negócio de um Deus que insiste em nos trazer de volta para casa.

O evangelho é boa noitícia,
é vida repartida entre os mortos.
é dádiva solene impetrada na taça da esperança.
é porta aberta para a ovelha que procura seu Pastor.

O evangelho é isso: um lugar perto de Deus.

FELIZ ANO NOVO!




O ano acabou e o sol permanece o mesmo.
Aliás, eu sempre notei que as coisas essenciais não mudam;
Mudam-se os anos e as pessoas, mas elas permanecem inalteráveis:
A lua, o mar, o vento, as flores, o céu azul, o ar que respiro e as amoras.

Odres velhos não suportam vinho novo.
A novidade da vida é flor que viceja no campo.
O ano que se foi é sempre um odre rompido.
A vida eclode fazendo rasgar o couro de dias idos.

O ano novo tem que ser odre novo.
Vivê-lo só será possível como vinho novo.
Embora eu saiba que odres novos suportam vinhos envelhecidos,
o meu coração aos quarenta quer sossego e transparência.

Quero me desfazer dos odres velhos que desperdiçam o vinho.
Estou cansado de pessoas quebrigam por nada.
Nada mesmo! Apenas lutam contra suas próprias vidas amarguradas,
Como não podem desferir golpes contra si mesmas,
tampouco assumem seus fracassos: pão de cada dia comido no prato da angústia,
Esmurram os outros, vingando-se nestes o que tentam matar em si mesmas.

Eu quero amadurecer em paz,
Viver meus dias de bem com a vida e aliado aos que amo.
Quero viajar,
Sonhar,
Escrever poemas de amor,
Compor canções de esperança,
Aninhar-me entre abismos, nos braços de quem me deseja amar.

Sou pássaro livre,
O universo me possui: sou cidadão do mundo.
Universal como sou, não quero a ninharia dos que não amam.
Quero a grandeza dos que realizam sem destruir nem pisar os outros.
Quero voar,
Quero escolher,
Conhecer pessoas, lugares e histórias emocionantes.

Quero ser lido,
Ser lembrado,
Ler bons livros,
Ver bons filmes,
Ouvir boas canções,
Amar sem restrição a tudo que é digno de amor.

Quero ser vinho novo em odres novos,
Mas ser vinho velho para odres antigos e fortes.
Quero a ternura de dias frios de sois brandos.
Quero o acolhimento das adegas da vida onde Deus é afeto.
Quero a família alegre,
A alegria pintada na tela da realidade sem receios,
A leveza de manhãs de jardins floridos nas janelas.

É isso mesmo!
Eu quero viver sem opressão, ansiedade ou culpa.
A religião dos que amam sem medo. Dos que são autênticos.
De um Deus mais humano que o pintado pelos que se pensam divinos.

Eu falo.
Eu não calo no meu grito o falo de uma religião sem alma.
Que vive da dor dos incautos.
Eu falo.
Porque calado consumo minha essência enquanto construímos o nada.
ponte estreita posta sobre o rio da vida que separa abismos.
Quero a religião de Jesus: o Cristo.
Onde o altar é a vida e onde a fé é grão de trigo que morrendo, renasce,

Ele não gritará na praça,
Nem apagará o morrão que fumega.
Nem esmagará a cana quebrada.
Quero olhar o pobre com mais brandura.

Neste novo ano me proponho a ser, eu mesmo,
Um vinho novo transbordando do odre que se envelhece.
Quero a fé que me levanta e que levanta alguém: os que se sabem caídos.
E que como eu, já não querem a disfarçatez de uma vida sem verdade.

Quero andar com Deus na medida que sua graça me permite,
Sendo ele mesmo a meu favor e eu o seu amigo.
Caminhada solitária e fecunda onde os pés grávidos do futuro caminham.

A todos os que lêem este poema um Feliz Ano Novo!

Arquétipo do Jardim


Gosto de plantar jardins
Mas minha vida citadina faz oposição a isto.
Minha alma quer as flores, mas minha razão me cobra o tempo.
Tempo desperdiçado com coisas e pessoas funestas.

A minha mãe não plantava jardins, mas sabia amar as flores,
Foi dela o meu primeiro poema, a primeira canção e sonhos.
Seu sorriso petrificou em mim o tempo,
Seu olhar em tempos de fome denunciava a sua fé.

Das flores ela era a mais bela,
Suas pétalas ainda perfumam o meu mundo.
Gosto de plantar jardins,
Pois os jardins são encantados: pequeno mundo de sonhos.

Não gosto de quem não gosta de jardins,
Os jardins distraem o olhar enquanto a alma viaja para longe.
Eu gosto mesmo é das bromélias, magnólias e dos ipês.
Não há jardins verdadeiros sem copos-de-leite, anões e anjos de gesso.

Somos nascidos no jardim,
O Éden é jardim onde Deus é artista plástico e nós sua obra prima.
Poemas de Deus é o que somos: frutos do jardim.
Sempre haverá um arquétipo do jardim em nós.

Eu acho que é por isso que eu gosto tanto de plantar.

Pleno Vôo




Irrompe em mim a aurora
A madrugada suaviza o olhar de quem ama,
Da janela vejo o sol despertando para mais um dia,
Acima das nuvens um mar de silêncio e a calma inquietante.

Para onde foram as aves?
Daqui de cima não se vê a chuva nem o arco-íris,
Meu corpo desliza sobre as cidades postas sob os pés,
Soberania de menino que deseja o mundo.

Sinto saudade da minha mãe.
Alguma coisa em mim busca algum lugar que não sei onde?
A saudade é moradora mais antiga no quarto 01 do meu coração.
Meu coração, por onde andará o meu coração?

Absorvo o que vejo e trago a fumaça do tempo,
Aspiro o que me inspira a enxergar além das janelas da alma.
Minha alma, por onde andará? Agora eu sequer saberia dizer,
Mas imagino que em algum lugar no passado:
ali onde as pessoas deixam suas marcas para sempre.

Zênite e Nadir






Hoje sangro nas feridas abertas de ontem,
O corpo chora o inexplicável,
A pele verte os dias que passam sobranceiros,
A alma verte o passado em forma de vinho acre-doce.

Minhas lágrimas são chuvas de invernos frios,
Meu suor é rio que corre montanha abaixo,
Meus desejos, cachoeiras que morrem nas pedras,
Odores de velhas cabanas onde meninos brincam futuros.

A poesia em mim é sangue que verte a vida,
Vida que versa a vontade de ser zênite,
Que morra o vazio ante o caos!
Minha espera acaba aqui: nadir de latas amassadas da festa de ontem.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um Natal Diferente



"O Natal é tempo de neve, sinos, renas e trenós,


mas como sonhar com isto no sertão do Nordeste?


meninos nordestinos do natal conhecem só os sinos.


As igrejinhas falaram sobre o menino Jesus,


Pintaram sua face e corpo na manjedoura,


Esse sim, se parece com o caboré no meio do mato.


O natal europeu é lindo, MAS DISTANTE PARA NOSSA ALMA AGRESTE


O natal do sertanejo é cruz erigida desde cedo,


É presente sofrido sem presentes nem Papai Noel PRESENTE.


É raro o nordestino ter um papai,


E mais raro ainda o Noel.


Amo o natal porque me remete aos sonhos DE CRIANÇA,


meninos pobres sonham com presentes e família presente.


No natal o menino Jesus é apenas sorriso, alegria e afeto.
EMANUEL: DEUS PRESENTE,


As crianças amam o natal a despeito de credo, cor, REGIÃO ou idade.


No nordeste o natal regido ao som da rabeca, tem cara de saudade, peru e gorgonzola.


E quanto a mim,


o meu natal é quietude, sininhos e guirlandas na porta do coração.

Para todos os que porventura leiam este poema: Feliz Natal!














sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Solidão





"O sol escondeu o seu sorriso entre núvens tímidas,


também sua razão de brilhar se foi!


A lua, linda e viçosa,

esperança e canção de sua alma partiu façeira,

enquanto, seu perfume, molhava o chão da saudade,

ali onde poucos sóis sobrevivem,

onde a dor persiste em doer,

onde aves belas que antes voavam e cantavam,

apenas saltitam serelepes com um grunhido triste no peito,

ali onde estrelas ensaiam a valsa de inverno que não mais será tocada,

onde a dança da magia jamais desenhará o piso opaco da beleza na festa do meu cansado coração,

este, já conhece a estrada e solitário se fez,

viandante com olhar no horizonte destila a vida entre a sede, a água e o cântaro;

me fiz lágrima vertida no olhar do desejo,

me fiz verso nos lábios do cantador,

do poeta eu fui a prosa,

do vaqueiro eu fui o mote,

e, com pouca sorte, me vi andando solitário de novo,

mas o que fazer se a alma esquece que amar é uma dor?



A angústia explode o meu peito como a cascata quebra as pedras no véu de noiva que dos


montes desnuda o céu,

aqui estou eu:

meu medo,

meu passado,

minha solidão,

o amor, bandido de brincadeiras infantis,

sorriu pra mim, mas logo se foi,

pegou carona no vento,

sequer franziu sua face;

deixou um rastro na areia,
uma palavra em forma de poema,

um verso em forma de afeto;

alegria que veio,

e ligeira se foi,

levando o pouco que restava,

e quanto a mim?


Me recolho à minha insignificância...

bebo o cálice de vinho de adegas de ontem,

ainda hoje vejo arder em mim o toque do olhar que rumou para o sol.


O olhar que esconde a lágrima,

um um sorriso contente,

uma pérola de mares escuros,

terra dos deuses antropóides,

uma ternura,

o mimo na leveza de olhos que se sabem saudosos".

Perdão





"A mão que afaga a pele da criança foi traspassada,


enquanto o peito sangrava a dor que o vento insistia em não levar,

os pregos,

a lança,

a coroa de espinhos,

a cor do vermelho que escorria no olhar,

trazia a lembrança do amor sincero dado gratuitamente,

sangue, suor e lágrimas;

nenhum gemido de protesto,

nenhuma palavra blasfema,

nenhuma revolta em forma de palavras,

nada que lhe pudesse tirar a nobreza.


Anos passados,

pés feridos,

mas a tristeza veio a galope, voando rasteira,

os melhores amigos se foram,

porém, seu coração insistia em amar,

seu assombro fez ruir a alegria,

seu terror brandiu a espada nua e fria no colo do coração que amava.


Uma palavra,

a traição,

a morte,

sorte em ruinas.


A pele enrrugada desejando o toque de quem partiu,

o afeto se esmigalhou,

o pote quebrou-se junto à fonte,

solidão,

uma canção se fez ouvir,

cuja melodia vaga na saudade de dias passados e de casa,

o último olhar,

um adeus em forma de silêncio,

um até breve, volto logo,

mas o semblante refletia a alma do que jazia ao pó.


Perdão,

a maior das melodias cantdas de perto ou à distância,

um afeto,

um sorriso,

um gesto que se eternizou,

a cruz deixada para trás,

o averso da luz,

uma rua solitária,

o Cristo se fez amor no olhar,

as chagas eram sua lembrança mais profunda da humanidade,

e de sua alma uma palavra não quiz calar:

PAI PERDOA-LHES PORQUE NÃO SABEM O QUE FAZEM".


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Coisas Insignificantes





"Hoje eu me sinto menor que um grão de areia,

minha finitude me devora,


E suas garras fazem em mim crateras lunares,

Golpes fulminantes me levaram à lona,

Beijei o pó, enquanto percebia que eu era apenas um conto ligeiro.

Notei-me insignificante ante às surpresas que esta vida traz,

Sinto-me como uma velha pá pendurada num celeiro da fazenda,

Onde a poeira esconde as marcas daquilo que já foi útil um dia,

Deixei o silêncio dominar meu mundo interior,


Enquanto ouvia ecos de um passado distante.


Nada nem ninguém pode ser mais importante que o torpor daquele instante,

As mãos formigando,


Os pés flutuando sobre um chão de vidro,


enquanto a boca sedenta clamando por paz,

destilava a prece que a alimenta em tempos de vendavais e tormentas.


Joguei fora o medo e apeguei-me à doce ilusão de que a vida é breve.


Tocar a finitude não é de tudo ruim,


Mas dá uma sensação de desterro,

Saber que tudo que se ama ficará para trás,

Porém, pior mesmo é saber-se não amado, ou ser deixado para trás,

Portanto, para mim, o tom da morte é o desamor,


Amar e ser amado é seu melhor antídoto.


A vida viaja ligeiro, navega impoluta nas águas do destino,

Poucos são os que não naufragaram em tais águas,

Até descobrir que a finitude é um dom, um privilégio,

Pois, o corpo viciado do mundo se cansa,

Faz da morte umparto para uma outra vida.


O além reserva o ignoto ao coração,

A fé arquiteta belas ruas e largas praças com janelas abertas para o paraíso,

Ali onde Deus é a plenitude de tudo,

Sim, onde nós somos mais do que meras coisas insignificantes".

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Terra da saudade






"O sol fechou suas cortinas douradas

e o azul do céu deu lugar à negrura pálida da nostalgia,

senti o hálito do tempo baforar em minhas narinas seu aroma quente,

vi destilarem em mim as lágrimas de dias que se foram,

tardes sombrias de sois brandos,

onde o vento levantava a poeira de onde saíam as meninas que corriam nas ruas,

sim, ali onde a malícia não atingia nosso olhar,

o olhar de meninos famintos por brinquedos manufaturados no fundo do quintal;

embora, o dessejo forte da paixão já esquentasse o pão no fogão à lenha da história,

sim, ali onde crescíamos e não nos dávamos conta.


Sinto saudade de mim mesmo,

menino, frágil, desnudo, correndo ao léu,

pés descalço, ao tempo e ao vento,

um universo de sonhos na cabeça e no coração o mar de desejos.

Sinto saudade de ti, terra jamais vista,

porém, desejada como outros mares distantes.


O véu que quebra o olhar se fez notar na penumbra do sorriso que se fechou com a última janela,
nasceu a esperança de encontrar a vida,

sim, nasceu a saudade de um tempo florido,

de dias inocentes,

do amor adolescente,

do calor sol,

das flores de invernos,

de verões passados,

sim, parti com o último trem que partiu,

me vi absorto, recluso em minha individualidade,

e a única palavra que retumbava em meu peito era: esperança;

o objeto do desejo na terra da paixão,

sim, na terra da saudade, onde mar e céu se fazem um só corpo".