sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Poeta Por Acaso.



Já cansado, boceja o Sol nas manhãs frias do inverno.
A poesia ainda não me ocorreu na alma e na garganta, um pigarro de sabores antigos, velhas saudades.
O que possui um poeta? Uma alma para percorrer poesias e dar sentido aos mundos.
A poesia antes de ser posse dos poetas, pertence aos deuses.
Além da alma o poeta nada possui. Não é sua a poesia.
Nem quando nasce, nem quando lhe acontece perceber os sentidos.
Depois que a escreve, deixa de ser objeto de seu pertencimento.
É do mundo, é dos outros e é de todos.
O poeta só possui a vocação de ser canal por onde a poesia percorre,
Ele é um cozinheiro que arruma os temperos e dá sabor às idéias.
Como escrevo poesias? Não sei dizer, eu só sei sentir.
O poeta é aquele que sente. Ele ausculta os deuses e escuta os mundos.
O poeta é aquele que sabe ver. Sem os olhos o poeta é mudo.
Tudo que um poeta precisa é de caneta e papel.
Tudo que o mundo precisa é de poetas e de almas sensíveis.
Amo as coisas sensíveis, por isso como algodão-doce.
Por isso cheiro as flores.
Por isso cuido da menina dos olhos.
Por isso respeito às mulheres,
Amo as crianças,
E ouço a música de Bach.
O meu coração de poeta é menino que procura o mimo do amor.
A poesia não me pertence, passa por mim, toca-me e segue o seu destino.
A minha poesia não é minha, pertence à alma do mundo. Sou poeta por acaso.
Eu apenas empresto-lhe minhas mãos, o meu olhar e minha pele sensível.
Poetizar é estar inoculado pela divindade.
Nesse caso, o poeta é a síntese entre ambos os mundos: físico e metafísico.
O Sol descansa as suas pálpebras; a noite é vinda.
O último a sair, por favor apague as estrelas.
Caso queira deixa somente a Lua acesa no abajur da saudade.

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