Eu sinto as esporas do tempo afligirem a minha alma.
Nesta vida eu fiz de tudo um pouco.
Fui leiteiro, entregador de flores e cantei na rua tocando latas de tinta.
Fui pastor de ovelhas com cajado e tudo e alimentei aos porcos.
Andei por ai inventando alegrias, pois era tudo o que eu sabia fazer.
Eu contei prosa à beira da fogueira,
Comi carne assada sobre a lenha, assei milho e castanha.
Ao som da sanfona e da zabumba dancei, junto ao fogo.
Quem poderá esquecer os dias de quando a alma em leveza se fez amor?
Soltei balões, bombas e chuvinhas, enquanto meus olhos alvejavam as estrelas.
Eu sinto saudade de um lugar que não existe mais.
Tenho medo da quietude, quando esta significa a ausência de quem amo.
Eu amo a estrada, quando esta me devolve o mundo.
“A estrada ensina”, disse um poeta sertanejo montado em seu cavalo de duas rodas.
O perfume da caatinga exala e o aroma, feito de amor, coragem e simplicidade me entorpece.
Não sou eu quem percorre a estrada, esta é que me atravessa a alma para o sem-fim.
Os mundos que habito em mim nem se comparam com o que pisam os meus pés.
Um caracol se faz leal ao seu casulo, por onde anda leva-o a leveza.
Transporto os meus no intuito de fazer-me abrigo para alguém.
Eu sinto que a vida é um mapa para descobridores como eu, que amam cruzar suas linhas.
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