terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Mórbida Insônia



"Alguma coisa em mim está em ebulição,
não sei se o corpo, a alma ou o espírito,
parte de mim quer a quietude e a outra parte quer voar
sobre os arranha-céus da cidade.

A noite verte o licor de sua lisura e silêncio,
e ao meu redor, acordado como eu,
apenas alguns besouros boliçosos,
não dormem nem me servem de remédio para o sono que não vem.

Parte de mim quer ganhar o mundo que nunca conquistou,
a outra deseja ser conquistado por um mundo mais próximo,
tudo em mim é incerteza,
cálice amargo para quem deseja andar com as gaivotas;

Desejo ir, mas receio de que, indo e lá chgando, sinta falta daqui,
aqui não é bom sem a possíbilidade de sonhar com o outro lado,
mas, é certo que esta existência humana infinitamente irrrequieta,
deseja possuir uma plenitude que não lhe é possível.

Sinto o cheiro das manhãs, das massas e das maçãs,
da padaria que à essa hora fabrica o pão esperando estômagos insaciáveis,
sinto o cheiro do café da roça, feito no forno de lenha,
onde a fumaça embota a parede, enquanto os cães ladram na estrada.

Ouço a melodia dos galos mais próximos,
eles se despertam, enquanto despertam o mundo,
e eu, desperto, nem me dou conta que a alva deita sua luz,
enquanto, minhas mãos ansiosas trabalham os dedos nas teclas de um computador.

Gostaria de dizer palavras novas para Deus,
ensaiei um dedo de prosa, mas ele, já cansado das mesmas palavras,
compreende que o meu silêncio tornou-se minha oração mais pura,
meu gemido travestiu-se da nudez do corpo que clama sem palavras.

Se eu pudesse dizer o que sinto, ficaria feliz,
mas, tropeço na fala da oração que não sabe os verbos,
que num instante se faz atoleimada, muda e sem nexo,
pão dormido para estômago faminto.

Um ventilador inquieto acena de um lado para o outro,
um vento sem fragrância, fuzila o meu corpo,
anestesiado de uma noite sem sono, sozinho e sem luar,
onde o anseio por algo que não sabe nomear corre pelas artérias do pensamento.

Temo o dia de sol sem sol,
sinto o calor de uma batalha iminente,
algo me diz que não será em vão a peleja,
mas, a voz meiga do Espírito Deus me sossega a alma lembrando-me antigas batalhas.

O tempo passa e meu corpo sente o peso da noite,
clama, calma e cama,
o sono que não vem desperta o poeta,
adormece o menino e dá vez e voz ao sonhador.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ola Robério........muito bonito este poema........Sei que as insônias não são fáceis... Essa foi boa, porque daí nasceu esse belo poema.
Abraços...Sil