sexta-feira, 17 de abril de 2009

Pelo ralo



A dor que transporto agora navega em mar aberto,
O cais está distante do olhar que deseja ancorar,
Um túnel escuro de nuvens carregadas e densas
Esconde meu barco que veleja entre abismos.

O arco-íris não veio,
O sol não deu a sua luz,
O vento sequer apareceu,
E eu meu senhor, parado aqui, respiro à sombra da escuridão.

Das gaivotas ouço apenas as vozes,
A terra firme parece estar perto,
Mas, quem disse que há mais firmeza na terra que no mar?
Ilude-se quem pensa que o mar não é sólido.

Ainda me lembro daqueles homens gritando na rua:
Olha o quebra queixo!
O outro dizia:
Olha a taboca!
E ainda outro:
Bolinho de puba!
Meu mundo solitário transporta-me às cavernas do passado.

Essa era a gastronomia de meninos fujões nas ruas,
Dinheiro pouco comprava o prazer da vida feito por mãos distantes.
A neblina cobre meus olhos enquanto sonho,
Sonho o amor que fragilmente se escondia lá em casa,
Quando minha mãe chegava de não sei onde.

Estômagos vazios não sonham nem despertam o amor,
O amor meu senhor, é afeto de abraços de mãe presente.
O amor meu senhor, é isso mesmo, a vida feita em atos.
Ato puro, sincero de quem deseja, incondicionalmente.
Deus é ato puro, puro amor.

Meu barco ainda está aqui,
Suportando a frieza das horas que não passam,
Mesmo, que o relógio, queira negar o dito.
Ah! Que saudade do colo da minha mãe.
O porto seguro te asseguro, um dia virá.

O cicio do vento forja a esperança no silêncio,
O medo já não mais ameaça,
Calo em mim a dor que transporto silente,
Calo a voz que grita e afugenta as aves,
Calo-me, enquanto a poesia escoa pelo ralo.

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