segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Perfume!
Aviso: Este podema deve ser lido ao som de uma canção que sugiro: http://www.youtube.com/watch?v=OcIMvliWM2I
Para todo aquele que deseja fazer da vida um jardim!
Algum lugar em mim evoca as flores.
Não sei se em minha alma, ou se em minha imaginação.
Há uma fragrância que se fez eterna, nos recônditos mais fundos do meu ser.
Seriam os sonhos?
O aroma da saudade goteja em mim como na folhas a chuva.
Seriam os desejos latentes no inconsciente?
Um perfume acre-doce que me remete à leveza de uma pena.
As penas são leves porque levam em si a ternura.
Os ventos que sopram em mim agora, me levam para campos floridos.
Melodia que se ouve quando o corpo quer mais que
Comer, beber e a solidão do quarto.
O som da saudade é som de vento que uiva nas montanhas.
É como aroma das flores de outonos em dias de outrora.
A fragrância que eu sinto agora, não se sente com as narinas.
É lá dentro, no fundo do coração sem razões: entre abismos.
Pascal compreendera isso e exclamou para sempre:
“O coração tem razões que a própria razão desconhece”.
A minha lucidez brinca no parque e se esconde na casa da árvore.
Um aroma, feito um mar de amor, exala em mim, o que em mim é saudade!
O que em mim destila agora, é verso, folha em brim e leveza.
Das flores a que mais amo, tem a cores de esperança em poesias minhas.
Não sei dizer como sinto o perfume que me envolve agora.
Apenas percebo que vem de um além em mim.
Será que a primeira vez que o senti foi junto ao mar?
Ou em alguma cachoeira encantada, feita entre as sombras de um vulcão?
Terá sido junto a maciez de pétalas multicores sobre as montanhas?
De onde vem a fluidez da alma quando se sabe anelo?
Não sei dizer. Eu só sei sentir e calar.
Há perfumes que somente o silêncio nos permite perceber.
Viaja para dentro de si, quem a si se entrega às lembranças.
Mas há viagens que não vêm de caminhos percorridos na razão,
Estas são mais profundas, exige o fechar dos olhos, o saber ouvir-se.
O que vejo quando fecho os olhos? Jasmins, apenas jasmins e mais nada.
Os jasmins me encantam porque belos.
Deve ser que minha alma perde a lucidez e volta à infância.
As flores da infância são mais belas que quaisquer outras que se nos acometa.
Eu vejo uma estrada.
Eu sinto a beleza natural à minha volta.
O menino corre! Corre para longe do que não é afeto.
Ao lado da estrada passa um trem.
Para onde vai? Sabe Deus!
O menino segue sobre trilhos e na curva do desejo,
A primavera espera sorridente à luz do sol que é só amor.
Em algum lugar em mim na fissura que se faz entre o sonho e a saudade,
Eu ainda sinto a essência de um perfume que figura o meu mundo.
Não posso esquecer que há muitos cheiros que nos perfazem a vida.
Eu ainda lembro-me de alguns que me habitam as lembranças.
O do café moído no pilão de D. Guiomar.
O da saia da minha mãe, quando à sua beira eu sugava o seu carinho.
O aroma dos parques ingleses, suíços e o da Capela de Belém.
Posso sentir o aroma da sopa de ervilhas com pato ao molho que comi em Portugal.
E até das lentilhas que saboreei ao vinho na Espanha.
O meu pobre e já tão cansado cérebro,
Ainda guarda minhas essências em sua caixa preta: massa cinzenta.
Mas em mim moram os jasmins, aromas sentidos ao som de um velho piano.
Chopin traduz minha alma e aroma em sua Eternal Sonata: Raindrops.
Absorto em minhas próprias lembranças, vago e divago por ai.
Sinto-me como gota de orvalho deslizando nos galhos de uma flor.
Mora em mim o silêncio.
Enquanto o ódio é exalado lá fora, em mim, o amor insiste em perfumar a casa.
Da sacada de minha alma eu vejo os crisântemos, as bromélias e os copos-de-leite.
Chove lá fora!
Uma só palavra em mim me faz calar a quietude, para se fazer ouvir amor que da fragrância eclode:
Saudade!
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