sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Um Poema chamado Silêncio!


O silêncio é a pedra de toque da minha alma.
Às vezes, o silêncio é a única expressão a ser pronunciada.
Um verso dito, quando se calam os verbos.
Uma pausa no som que ecoa ao entorno e o eterno.
Vórtice da palavra esmagada na fenda do tempo.
Porta que se abre para a escuta de mim mesmo.
Para que a palavra se dizê-la não é mais necessário?
Daqui se pode ouvir a cigarra.
Ecos de mim que viajam ao vento.
O silêncio é agudo como espada afiada na pedra do desejo.
Poucas coisas merecem a minha não-palavra.
Não terei que pedir desculpas pelo silêncio,
Quando abismado me posto ante seus mistérios.
O nascer de uma criança.
O eclodir de um pensamento!
O brotar de uma flor.
O cair das pétalas.
No silêncio, os segredos do divino sacralizam o encontro,
O perdão é concedido ao orante.
As lágrimas são a oração mais suplicante.
O silêncio em mim é transcendência, doce espiritualidade. 
Calo-me ao pôr-do-sol.
Quedo-me silente ante a beleza que cristaliza o olhar.
Amo o silêncio quando preserva minha subjetividade.
É em silêncio que escuto os ruídos que habitam em mim.
Às vezes, o silêncio é afeto, outras vezes, brutalidade.
Dê-me o silencio quando a palavra estiver grávida de morte.
Dê-me a palavra quando o silêncio for oceano intransponível.
O silêncio é abismo, quando a alma quer escutar-se.
O silêncio habita a morte quando a sepultura é caminho para o ser que reflete.
Muitas vezes o silêncio é espelho!
Se o que vou dizer não for mais importante que seu silêncio, calo-me.
O silêncio faz o tolo parecer sábio.
Cálice de vinho tinto de sangue é a palavra que amarga o afeto.
Flecha veloz.
Arame farpado que prende os pés.
Cerca de espinhos, posta na estrada de quem anda às cegas.
Há momentos em que o silêncio é a melhor poesia.
A mais doce canção.
Melodia sem notas nem tons; sons do amor de quem ama amar.
A canoa do silêncio navega solitária, sobre o espelho d’água da imaginação.
Em Maiakóviski a palavra tem o seu lugar:
“Sei os pulsos das palavras...
Não as que se aplaudem do alto dos teatros,
Mas as que arrancam caixões da treva”.
Às vezes, o silêncio é o único caminho seguro para quem deseja a poesia.
É a eloqüência mais elegante de quem se sabe em paz com o mundo.
Faço silêncio agora e minha alma grita.
Parece-me que silêncio é palavra galopante entre as estrelas.
O ser pensante precisa aprender a calar a alma.
Tenho que aprender a calar a alma.
Quando calo minha alma, meu inconsciente quebra a vidraça do silêncio,
De maneira que mesmo em silêncio, calado eu ainda sou palavra: metalinguagem.
Sem voz, sendo voz.
Sem canto e em mim um coral.
Sem versos, e os poetas do meu ser ressuscitam de suas velhas tumbas.
Só silêncio! Sou silêncio!
Quando o mundo não cala, calo eu.
A poesia em mim pretende ser o que não pode ser jamais: silêncio.
Desse modo, quero arrancar caixões da treva.
Escuridão que habita o ser onde não há incidência da luz.
No escuro, tudo se cala. Só há o cogito (ergo sum).
E se cogito me ergo sim.
Não há palavra no mundo dos mortos.
É no silêncio que o ser se percebe e a dúvida é a sua mais profunda certeza.
Gosto do silêncio quando sua profundidade é a mais alta expressão do amor.
Gosto do silêncio, quando silente absorvo o mundo, observando a mim mesmo.
Todas as vozes se calam, quando calo em mim todas as cores.
O grito das flores é sua beleza dada em silêncio.
Sutil eloqüência de quem respira a essência da vida.
É madruga! Todos dormem, e daqui, se pode ouvir o nada.
Silêncio! Não acordem as aves.
Cala-se para ouvir o que a palavra claudica em dizer.
Silente, escute o que só o silêncio pode e sabe dizer.
Uma criança dorme ao lado. Nasceu ontem!
Psiu! É na penumbra do silêncio que se pare as idéias e as crianças dormem.
Uma flor está brotando. Cale-se! Daqui se pode escutar a sua voz.
Há sonoridade na vida que só em silêncio se pode auscultar.
Em meu silêncio nasce a poesia que desperta a inocência.
Minha poesia é silêncio!
Palavra na não-palavra!
Meu intenso desejo de calar no mundo suas dores.
Façam silêncio!
Um poeta percebe o mundo despertando o amor.

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