segunda-feira, 22 de junho de 2009

Preso Na Cumeeria


Quando criança eu ouvia uma canção que dizia:
“Essa vida é um trapézio preso na cumeeira”.
O cantor apenas deu alma e voz à poesia,
E eu ali, pendurado via o tempo passar.

Falo do tempo porque não o possuímos,
Este é apenas uma sutil sensação que percorre nossa existência,
Enquanto escolho e imagino as coisas que desejo que permaneçam comigo.

As cordas mantêm nosso corpo suspenso
Entre o céu e o palco.
Daqui de cima, tudo é silêncio
E a mente percorre o tempo que já não existe.

Uma pirueta,
Outra pirueta e de novo, a alma se projeta,
A esperança é a alma do futuro,
Janela aberta para o amanhã.

Daqui de cima, meu senhor, tudo é silêncio
E a mente não sabe fazer outra coisa além de
Percorrer os tempos que não existem.

O presente é um trapézio,
Preso na cumeeira do espírito e do tempo,
E quem nele dependura-se, sustem-se entre abismos:
Passado e futuro, tempos que não existem além da imaginação.

O fato é que essa vida não é outra coisa,
Picadeiro onde ensaiamos o que somos.
Já não somos mais o que éramos,
Tampouco ainda somos o que nos tornaremos.

Uma pirueta, outra pirueta,
Bravo! bravo! Brevíssimo!
É tudo o que somos,
Enquanto gritam, as vozes altissonantes da platéia,
Carentes e entre abismos como os que estão no alto,
Todos esperam apenas a próxima atração.

Daqui de cima, meu senhor, tudo é silêncio.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Fenda




O tempo é como agulha e linha,


Constrói sonhos nas mãos dos que amam.


Eu, sou filho do tempo,


E minha vida é tecido que versa o amor


Em cores, formas e ternuras.


A senda do amor é o desejo,


A fenda de mim se tampa com o olhar;


Olhar que se esconde no penhasco da espera,


De tudo e do afeto que habita o silêncio.

Entre Abismos


Quando criança eu tinha o hábito de andar de olhos fechados sobre os muros da cidade,
Brincadeiras que teciam a alma, enquanto a mente entretecia sonhos.
Tudo era muito seguro ao anil do olhar que fitava o céu e as coisas;
Não olhar se tornava a atração mais divertida para a alma que se sabia frágil vida.

Pernas acinzentadas,
Corpo esguio,
Lábios ressecados,
Alma aberta para mundos além dali;
Uma brisa leve parecia beijar a face tenra de um menino sonhador.
De braços abertos,
Eu andava sobre os muros me fazendo parecer flutuar
Entre o céu e a terra.

Era como um vôo solitário,
Eu sequer olhava o perigo ao redor.
Meus pés rumavam claudicantes enquanto a imaginação me vestia de Peter Pan, numa aventura contra seu algoz: Hook.
Logo meus olhos se abriam e tudo voltava à normalidade.
O vento já não era mais o mesmo,
O chão parecia roubar de mim outros chãos,
Aqueles que a alma segreda quando o mundo cala.

Hoje eu cresci, mas preservo em mim a sensação dos dias passados,
Meus olhos se fecham quando quero encontrar aquele menino;
Ele habita meu mundo interior e eu o habito, enquanto passo os dias.
Como criança eu pensava: a gente vê melhor com os olhos fechados.
Os olhos da alma se obrigam a ver aquilo que os olhos da face não podem ver.

Vejo melhor quando a face se cala,
Sinto melhor quando a alma se abre para ver,
Ando melhor quando apenas vejo o que meninos vêm quando brincam de fechar os olhos nos muros que separam abismos.
De olhos fechados eu creio,
De olhos abertos sou senhor de mim mesmo,
De olhos fechados me entrego,
De olhos abertos resisto,
A alma que sabe ver vê melhor quando os olhos se fecham,
Porque em si mesma, sente, interpreta e percebe o mundo.

Vejo melhor quando sinto,
Quando nasce em mim a pergunta do profundo silêncio:
Onde estou? Quem sou eu? Para onde Vou?
E se nada respondo é porque ainda mantenho os meus pés sobre o muro e na face, a brisa leve anuncia mais uma travessura.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Do Penhasco De MIm




Aqui do meu penhasco avisto o mar em silêncio,
O vento que sopra a minha face anuncia uma nova estação;
Desses ventos de inverno, que o amor acolhe a saudade.

Vejo a linha do horizonte ali ao alcance dos sonhos,
Enquanto, meus olhos não se fartam de desejar o outro lado.
Sou mestre do desejo na terra da esperança.

Aqui do meu penhasco observo as naus,
Velhas embarcações que transportam sonhos,
Enlace de destinos que se afinam como notas musicais.

A estrada dos que navegam é feita nas estrelas,
No coração dos mares habita a rota invisível dos poetas,
Poetas como eu, que pontuam nos céus os sinais do amor.

Aqui do meu penhasco ouço o mundo,
Silente e profundo vejo respingar em mim o tempo,
E assim marejam meus lábios as lágrimas que rolam a face.

O mar em mim é mar que enche a retina e a íris de afeto,
Nele, as naus, cruzam em mim as linhas traçadas na alma,
Nas estrelas faço o meu caminho e nas profundezas calo a dor.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Um Poema Para A Terra Do Nunca - Neverland


Eu vim de longe, de terras distantes,
De onde o amor é feito bolinhas de gudes,
Que rolam suavemente entre os dedos de meninos que amam,
Enquanto brincam no quintal do tempo.


A vida é assim, como jardins floridos,
Aninha em si a diversidade de tudo,
Como poema escrito com letras maiúsculas,
Em papéis coches, por corações na adolescência saudosa.

O cais de mim abriga o amor que aporta
Embarcações viajantes de sonhos sem-fim.
Navios piratas em busca de tesouros perdidos,
Naus que nunca embarcam para a Terra do Nunca.

A minha poesia é tapete mágico,
Que transporta os que sonham para mundos infantis;
O meu poema é novelo que só desenrola o olhar que sente saudade.
Pois, o olhar que prende anda solto por ai e o que solta anda preso em castelos de areia.

A poesia em mim é mar que o amor navega,
É arco-íris que colore os sonhos,
É chuva que rega a terra onde a vida é grão,
Somente; semente de mim no lugar das lembranças.

terça-feira, 9 de junho de 2009

O Céu do Deus Da Minha Mãe




O céu do meu sonho tem jardins cheios de flores alegres,

Ruas largas, becos, alamedas arborizadas e até praças espaçosas.


Seus muros de pedras preciosas refletem a luz de Deus, seu Sol.

Minha mãe falava sobre este lugar como se lá já tivesse ido alguma vez;

O fato, é que para mim, muitas vezes, eu visitei o céu por suas palavras.


Ouvi na minha fértil imaginação, melodias cantadas por anjos,

Avistei portais dourados e voei com os serafins entre os palácios.


O céu do Deus da minha mãe, era para mim,

o lugar mais encantador que eu jamais ouvira falar.


Revisito-o todas as vezes que sinto falta de uma canção de ninar.


É que nós adultos, mentimos, sempre que escondemos nossas carências.


Minha mãe dizia que no céu de seu Deus não haveria morte,

Nem dor e tampouco o sofrimento;

Eu amava aquela notícia, visto que, tais coisas,

Eram o pão de cada dia de meninos pobres vitimados pelo mundo,


E, que por isso, se nutriam de sonhos e esperança.


Era arrebatadora a prosa no escuro do quarto,

No aconchego do ninho sob o manto materno.


Ali onde esquecíamos a fome e a dor,

Contemplando a janela que dava para o paço real.


O Deus da minha mãe era um Rei,

Altíssimo, elevado, acima de todos os reis da terra,

E com Ele governava um Príncipe,

Seu Filho e com ele um séquito de anjos e querubins.


Assim, eu me perguntava avidamente:

Quando e como seria o dia da nossa partida?


Porém, eu temia a morte, visto que, esta era sempre uma incógnita,

Para os desprovidos de fé ou mesmo, para os de fé em formação como eu.


Sinto falta do tempo que do calor da sua costela eu avistava o trono de Deus,

Sinto falta do tempo em que o tempo parava para nós ao tocarmos à eternidade.


Minha mãe tinha o poder mágico de transportar-nos para o lugar mais belo dos

Sonhos, ali, entre o telhado e o aconchego da cama.


Ela mesma, alimentava a sua esperança,

Na dura vida que levava com os olhos fitos no céu.


A minha mãe tinha o céu como pano de fundo da sua vida.

Ainda hoje, eu anelo, como única coisa sólida das minhas certezas:

O céu do Deus da minha mãe.


A vida é como um conto ligeiro;

Nela podemos perder todas as coisas.


Eu já perdi muitas coisas nesta vida.


Vi passarem os anos;

Vi o tempo ruir aos meus pés;

Amigos que se foram e outros que vieram ocupar os espaços vazios,

Fiz do mundo a minha morada enquanto construía meus versos,

Todavia, no peito ainda guardo das reminiscências infantis,

O desejo de chegar ao céu do Deus da minha mãe.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Minha Alma De Poeta




A minha alma de poeta é feita colibri nos telhados,
Canta, salta e versa a vida que convida ao vôo profundo,
Minha poesia é doce, feito framboesa iluminada por clarabóias.

Minha terra é distante,
Distante de tudo que me amedronta,
Ela dista de mim, das sombras e do meu mundo de sonhos.

Um poeta se não lido, é fruto peco no pé,
É semente, ainda no cesto e longe do chão,
Se devorado, é alimento que sacia a alma, e somente a alma.

A poesia para o espírito, é feito pão que alimenta o corpo,
É caminho que faz o orante transcender-se no altar;
Salmos são poemas de amor e oração é dor de quem ama.

Oração sem poesia é prosa vazia de afeto.
Louvor sem poesia é sino que retine,
Nem os deuses podem suportar.

Minha alma distante,
Distante da terra que aninha segredos infantis,
Lugar onde abrigo anelos inocentes.

A Minha alma de poeta é feita colibri na cumeeira,
Cala, sente, observa a vida sorvida de vôos de outrora;
Migra para longe, onde só o olhar de quem ama pode auscultar.

Minha alma de poeta não é outra coisa senão,
Uma janela aberta para o mundo encantado do afeto,
Onde a paz, a vida e carinho são o pão de cada dia de quem sonha.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Feixe de Luz




Uma porta se abriu num feixe de luz, ante o meu olhar atônito,
Absorto, fiz-me silêncio num instante eterno,
Fragmento de uma alma que espera a primavera chegar.
O tempo não estava ali,
O presente, virando fumaça, desfez o medo que caminhava ao lado.

Era apenas uma luz, numa explosão de cores e formas,
Energia que na leveza flutuava meu ser num vôo para a vida.
Meu sorriso iridescente viajava numa correnteza de raios, gamas e sombras,
Ondas feitas no movimento do calor do amor que se dá em plena escuridão.

O olhar que reparte mundos se deixa notar,
Partículas de mim que navegam na luz e brilha leve entre as nuvens.
Caminho da terra do nunca,
Onde só os meninos perdidos sabem chegar.

Viajar na luz é dissipar-se das trevas,
É viver na clareza de si e para si, sem negar-se a imprevisibilidade,
Andar na luz é despir-se ao crivo do olhar do outro,
É viver sem sombras.

A luz meu Senhor, seja ela qual for,
É sempre um lugar de espelhos e vidros transparentes,
É lugar da verdade a favor ou contra nós mesmos,
A luz é a estação da alma que se sabe a espera do trem do amor.

Uma porta se fechou do outro lado da luz,
Sem querer sair, vi despencar meu corpo no abismo da realidade,
Máquinas estridentes, sons diversos no universo paralelo,
Carros, vozerio de pessoas que sequer notaram minha ausência,
Quântica de mim, estacado entre muros de mundos distantes.

Ah! Antes que eu me esqueça,
O último que sair, por favor, apague a luz,
Mas deixe uma janela aberta para o luar clarear o quarto
Escuro de onde vejo as estrelas.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Poema De Uma Nota Só






A minha alma se encanta com poemas, invernos e chás,


Além do amor, amoras, Bethoven, a prosa e uma boa prece.

O Sol E Meu Olhar




O sol se fez poema ao meu olhar,

somente para mim tranziu sua luz,

seus versos, ainda ecoam em meus sonhos.



Meu olhar se fez plateia ante o tempo,
fagulhas de fogueira que arde em invernos frios,
ali, onde o vento sopra as flores.


O sol e meu olhar se cruzaram no horizonte,

e ambos abraçaram o universo,

que se fez ponto num verso solitário

de um só tom.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A Laje Da Minha Casa





Da laje da minha casa eu avistava o passado,
Lugar alto, tão alto que os olhos nem viam o perigo.
Pés descalços, ligeiros como os de gatos fujões,
E mãos que costumavam tocar as nuvens, logo ali,
Eu empinava pipas e soltava bolhinhas coloridas de sabão.

Do telhado eu sentia o presente chegar sem piedade,
Seu sorriso faceiro passava entre os fios dos postes;
Sua presença dava calafrio na espinha do meu ser,
E embotava a pele rígida e desgastada da chuva;
Da laje da minha casa eu percebia o tempo correr rua afora.

Dela eu avistava o nada, o incerto, o ignoto,
Via apenas o futuro: um túnel escuro.
Não via mais nada, além de mim mesmo;
Menino frágil que tecia a esperança com linha e cerol.
Uma fraca luz que sozinha sepultava o medo.

O céu de Deus sempre tocava o meu;
Dali eu via os Seus sinais e a ironia do destino.
Vidraça quebrada de cacos recolhidos em silêncio.
Nela eu sentia o vento soprando o arco-íris,
E me despia a alma para pôr-de-sois saudosos.

Nela eu vi redemoinhos moleques brincar solitários ,
Mas, dali, eu não via o mar, pois este morava distante.
Da laje da minha casa muitas vezes, eu vi o olhar da mulher
Mais bela do mundo me amar: a minha mãe.

Nenhum lugar foi tão significativo como aquela laje,
Ali, meu mundo concreto era feito de papel e lápis de cor.
A alegria caía como gota de chuva e pingos de tinta,
Enquanto meus sonhos entorpeciam a dor da saudade na solidão.

Ah! Que saudade da laje da minha casa.

Túmulo da Palavra



O verso versa a estrada percorrida em silêncio,

A melodia da poesia é sua espinha dorsal.

A vida da prosa é o amor do poeta,

A rima é o espelho da alma que espera as horas.

Um canto,

Um conto,

Um ponto,

E a tristeza meu senhor, é
o túmulo da palavra.

Contra-ponto do amor sepulatado no ontem,

Ressuscitado no agora,

Esperança do amanhã.