quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Estação!

 

O trem partiu à tardezinha e da janela um olhar me espreitava liquefeito.

O trem partia, mas o coração quedava cálido, emudecido e anelante na estação.

O Sol enternecia a saudade e sobre os trilhos ouvia-se a “Canção Da Despedida”.

Os pés pisavam as lágrimas que saltavam no vão entre a face e o chão.

A alma absorta via reluzir os raios de um Sol que entretecia a solidão sereno.



Lágrimas entre abismos de um corpo preso no fosso de lembranças vívidas.

Agreste eu me afogava no oceano dos meus olhos ao ver o aceno de quem partia.

O mar que inundava o olhar de quem partiu desaguou no porto da tristeza.

Para onde vão os trilhos quando os pés não querem voltar à mesmice das coisas?

Onde dará esta estrada de ferro onde linhas férreas ferem o ser que desliza ao léu?



Sob um chapéu de couro escondo-me à sombra de mim mesmo.

Será que o tempo me dará o amor que à aurora fez brotar amoras?

Por onde andará o amor? Seguiu no trem e fendeu-se ao tempo e ao vento?

Cingiu-se de lágrimas! Seguiu o horizonte de uma vida feita a ferro e fogo.

Não raro vejo o seu sorriso quando de braços abertos e olhos fechados ando sobre trilhos.



Eu moro numa montanha onde a chuva rega a flor da alegria.

Habito ao pé de uma estação: a das flores. Partida e chegada moram em mim.

A estação de onde se parte é a mesma para onde se retorna.

De onde nascem as lágrimas, brotam sorrisos e afetos infindos.

Toda estação é ambígua, o amor e a morte trafegam por suas linhas e túneis.



Onde estará o amor? Na estação! Está são? Não sei.

Ainda vejo sua silhueta. Sua alva luz ficou no meu olhar.

O trem que partiu ficou em minha retina, o caminho que vai dar no Sol.

Com o trem, partiu minha alma e parte de mim, vaga por ai sobre trilhos.

Anelo a poesia em versos, de canções com melodias feitas para quem fica.

Quem parte leva tudo. Leva o Sol, o tempo, o vento e deixa apenas a estação e a saudade.


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