O trem partiu à tardezinha e da janela um olhar me espreitava liquefeito.
O trem partia, mas o coração quedava cálido, emudecido e anelante na estação.
O Sol enternecia a saudade e sobre os trilhos ouvia-se a “Canção Da Despedida”.
Os pés pisavam as lágrimas que saltavam no vão entre a face e o chão.
A alma absorta via reluzir os raios de um Sol que entretecia a solidão sereno.
Lágrimas entre abismos de um corpo preso no fosso de lembranças vívidas.
Agreste eu me afogava no oceano dos meus olhos ao ver o aceno de quem partia.
O mar que inundava o olhar de quem partiu desaguou no porto da tristeza.
Para onde vão os trilhos quando os pés não querem voltar à mesmice das coisas?
Onde dará esta estrada de ferro onde linhas férreas ferem o ser que desliza ao léu?
Sob um chapéu de couro escondo-me à sombra de mim mesmo.
Será que o tempo me dará o amor que à aurora fez brotar amoras?
Por onde andará o amor? Seguiu no trem e fendeu-se ao tempo e ao vento?
Cingiu-se de lágrimas! Seguiu o horizonte de uma vida feita a ferro e fogo.
Não raro vejo o seu sorriso quando de braços abertos e olhos fechados ando sobre trilhos.
Eu moro numa montanha onde a chuva rega a flor da alegria.
Habito ao pé de uma estação: a das flores. Partida e chegada moram em mim.
A estação de onde se parte é a mesma para onde se retorna.
De onde nascem as lágrimas, brotam sorrisos e afetos infindos.
Toda estação é ambígua, o amor e a morte trafegam por suas linhas e túneis.
Onde estará o amor? Na estação! Está são? Não sei.
Ainda vejo sua silhueta. Sua alva luz ficou no meu olhar.
O trem que partiu ficou em minha retina, o caminho que vai dar no Sol.
Com o trem, partiu minha alma e parte de mim, vaga por ai sobre trilhos.
Anelo a poesia em versos, de canções com melodias feitas para quem fica.
Quem parte leva tudo. Leva o Sol, o tempo, o vento e deixa apenas a estação e a saudade.
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