segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Poeira, Tudo é Poeira!



Absorto, vejo-me pensante.
O pensador em mim quer entender as coisas.
Não há nada para entender se o coração só quer sair por ai.
Tudo que não é amor pulveriza-se quando se caminha pela vida.
Só o amor não fica empoeirado quando a estrada é de barro.
Nesses casos nem os olhos escapam.
A terra vermelha colore o olhar de quem chora e espera o afeto.
Viajo em meus devaneios, entre abismos, sombra e poeira.
Por aqui meu senhor alegria é chão batido e o coração estremece aos respingos das chuvas.
Já há muito os meus pés não tocam o chão da quietude.
Minha alma vive nas alturas de céus de poemas azuis entre nuvens feitas de sonhos.
O vento da inspiração passa pelas frestas do meu pensar e areja-o.
O mato seco refresca-se com a chuva que molha o morão da cerca.
A minha alma, feito ave de arribação pousa entre as estacas do tempo feita de arames farpados.
Com o orvalho, a terra árida perde o tom de deserto,
E dá lugar ao barro de onde nasce o homem.
E assim, surge no prado ervas cobertas de musgos vicejantes.
O Adão em nós assume sua mais bela condição humana.
“No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado: porquanto és pó, e em pó te tornarás”, diz o poema sagrado.
Se eu sou poeira, não devo temer a estrada por onde passam pés, sonhos e amores de outonos.
Se pó me tornarei é porque pó eu era.
Devo entender que serei o que sempre fui
E, portanto, mudança alguma há na travessia.
“O Verbo se fez poeira e habitou entre nós”.
Eu não entendo a eternidade,
Mas sinto-a quando estou entre as flores,
Esta simplesmente me toma pela mão e passeia comigo.
É somente nos pores-do-sol que a percebo mais definida.
Esses dias eu vi a chuva, nua como ela é,
E meus olhos, feitos de areia viram-me atolado em mim mesmo.
Com o tempo eu descobri que ainda tenho muito que morrer antes de morrer para sempre. Antes de viver para sempre.
Antes que “e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”.
Até lá eu vou afirmando minhas certezas: “tudo é poeira”.
Tudo em nós é pó e o mundo fora de nós, como areias do mar.  
A poeira que sou sobrevive dos ventos.
Sopra vento, leva-me para longe de mim mesmo e de tudo que não se chama esperança.
“O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz; não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”, disse Jesus.

Nenhum comentário: