A nudez do tempo não constrange o meu olhar.
Sinto o frio do fio da espada traspassar o silêncio.
O tic tac do tempo como uma locomotiva afasta a calma na rudeza da espera.
Mas o relógio da parede segue a batida do coração.
As estações do ano param nas estações das velhas cidadelas,
Onde ao sabor das horas dita as batidas do coração o vento.
O fio da luz da lua é prata,
A luz que reflete os olhos é prata,
Como prata é a moeda que tilinta sobre a mesa entre moscas famintas.
O tempo não existe como forma e ser.
Quem mediu os seus passos?
Quem o viu sequer levado ao vento?
Quem o notou senão na sua própria insustentável leveza de ser?
O tempo é instantes dialéticos: fazimento, desfazimento e refazimento.
Mas o tempo é relatividade no amor ou na dor.
Somente no amor o tempo é pródigo, porque o amor não se sabe livre da imaginação.
O “ser-em-si” conhece o tempo entrincheirado na memória.
Todavia, o “ser-em-si” sabe-se dotado de transcendência: o inconsciente.
Para este o tempo nada é; mera distração.
É na alma meu senhor que o tempo externa-a-mente.
E nela percorre a vida que pulsa no anseio eterna-mente.
A alma mente, pois tempo não é uma realidade visível.
Claramente a luz se acende quando se aclara o que disse a Clara:
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
Não altera em nada...
Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas.
A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
O tempo é uma faca fria que corta o fruto na estação apropriada.
Sigo vivendo simplesmente,
Sou criatura do tempo e de seu domínio só me restam as rugas.
Sou semente na poesia e somente mente quem diz que a mente é só feita de demência.
Vou viajando no mar de lembranças e desejos,
Vejo o mundo pelas clarabóias da esperança.
Até que tudo não passe de mera finitude.