quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Mera Tentativa



O que dizer se hoje só o silêncio reina no coração?

Nada a dizer. Nada que quebre a vidraça da não-palavra.

A aranha continua ali fazendo sua casa nova e temporária.

O som que vem da rua é o de um serrote distante.

Ouço o vozeio dos que chegam para mais um dia de labuta.

E eu, aguardo uma viva alma anelante falar-me de sua desventura.

O que dizer se hoje a palavra não eclode?

Nada dizer. Pensar tão somente. Simplesmente pensar.

Eu gosto de pensar, sobretudo quando o meu pensar pare poemas.

Os telefones hoje estão sossegados.

As mãos repousam sobre as teclas do computador

Enquanto os dedos seguem a intuição amanhecente.

Acorda em mim o desejo de dizer, mas a palavra não vem.

São vinte para as dez da manhã e absorto, me envolvo com agulha e linhas.

Na urdidura de verbos, artigos, substantivos, adjetivos, conjunções e preposições,

Vou apenas deslindando o que a alma nem sabe se vai dar certo.

O que dizer se hoje a palavra não me vem sequer de sobressalto?

A beleza de um poema está no encantamento que se dá no arrebatamento dos sentidos,

O poeta não vive sem esta experiência e o que passar disso é mera tentativa.

Receio que este poema não seja outra coisa além de uma mera tentativa.

Há poemas que submergem da alma, outros encontramos nas rosas,

Mas muitos deles, como este, tem que ser garimpado, escavado e no final,

Não sabemos se é uma confissão ou uma poesia natimorta.

De uma coisa eu estou certo, este texto evoca em mim o desejo de poetizar.

É isso mesmo! A aranha continua ali tecendo o seu novo mundo,

E daqui eu sigo as suas teias enquanto a palavra não acontece em forma de beleza.

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