sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Valparaiso - Desejo conhecer-te


Neruda me ensinou a amar o seu país.

Lá eu nunca estive; ainda!

O mar de Valparaiso é mar de poetas poentes.

Amo dali o vinho tirado das parreiras novas,

Ai onde a eternidade conspira o afeto.


Quero a brisa suave das ruas frias

E das tabernas ouvir os versos de poemas feitos no escuro.

Minha negra pele emudece o vento que passando verte o amor.

A buzina do navio ecoa avisando a partida,

E do bonde o meu olhar contempla o céu tingido de uvas verdes.


O sol entreabre-se nas frestas de nuvens feitas para meninos fujões.

O amor encontra o poste e agarra-se à única luz possível na praça.

Lamparinas velhas de adegas que percorrem a brisa que leva o aroma dos sonhos.

Qual o perfume dos sonhos? Que cheiro tem?

Acho que os sonhos cheiram parecidos com os cheiros de casas de avós que amam.


Eu não tive avós; elas morreram antes da minha pequena vida.

Mas tive um único avô que bêbado beijava sapos e nos fazia rir.

Anísio era o seu nome. O único cheiro que remonta os sonhos atávicos

De um poeta velho que amava o mundo sem saber amar-se.

Meu avô e Neruda não possuem semelhança alguma senão a dos sonhos.


A brisa que sopra aqui é aquela que desejo que sopre sempre alhures.

Sou poeta comedor de tangerinas e faço da noite um lugar para amar.

Para que morrer se posso sentir aromas suaves de muitas vidas e sonhos?

Quero a brisa de Valparaiso.

Seu sol, seu mar, seu vinho.

Quero um cruzeiro no sul e do sul.

Quero a noite,

Quero o dia.

Quero as manhãs,

Quero o encontro de chuva e sol,

O amanhecer,

Quero quedar ai onde a saudade é mera saudade.

Ai mesmo, onde sentimos a saudade de sentir saudade.

Quero o entardecer e uma sopa quente com alcaparras.

Quero o sol quebrantado pelo frio,

Quero o queijo de bocapios distantes.

Quero andar de patinete só para sentir a leveza da brisa que vem do mar.

Valparaiso como eu gostaria de conhecer-te pessoalmente.

Eu te diria: olá sou eu o amigo de Neruda teu mais novel súdito.

Daqui da minha distância não dou a chance da demência me roubar a alegria.

Me sinto brisa,

Sou poesia,

Sou verso de adeus em terra de sequidão e estio.

Sou canção posta na pauta de quem sabe sussurrar melodias Caymmi.

Daqui do barco do meu desejo eu velejo só ao som do vento

Em mar que infindo morre em mim o medo de ser feliz.

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