quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Cativar



O mundo me cativa, pois cativo estou no mundo.

Sua beleza, feito flores de inverno, me encanta os olhos.

A primavera está ali ao alcance das mãos;

Existe coisa mais cativante que borboletas voando ao pé das montanhas?

Amo o musgo das pedras de beira de riachos que cortam colinas,

Tudo me cativa.
Mundo que me faz refém de seu altar de ternura.

O mato está verde e o sol não esconde a gordura do capim.

O meu olhar busca o azul do céu de verões sem chuva,

O juazeiro dá sombra ao chão e o fruto se esgarça na queda-livre.

Os pés das árvores têm as cores das flores nas copas.

As aves esvoaçam ao som da boiada que passa ao tom do berrante.

Esse mundo de meu Deus me fascina!

Mundo que cativou Deus e que ainda cativa a homens saudosos como eu!

O mar está ali enquanto as ondas brincam na areia.

Vejo o mundo numa bolha de sabão, nela a eternidade é apenas um instante.

Florestas cintilantes revelam vaga-lumes tímidos em torno da luz da lua.

Sim esse mundo me cativa como as pessoas me cativam.

Agora eu sei por que Deus amou o mundo de tal maneira.

Poucas coisas me cativam na verdade,

O amor,

O mar,

Amar,
E as amoras,

A poesia da Cecília,

A Sininho com sua visão panorâmica,

Neruda, Drumont,

Jofre Soares em sua interpretação inigualável,

A brisa leve soprando no rosto à sombra no agreste.

Os respingos das águas de cachoeiras escondidas nas matas.

Sou cativo da beleza e servo do olhar que acolhe do alto.

Cativam-me as nuvens passageiras,

Redemoinhos de vento,

Estrelas cadentes tomando o rumo do desejo,

Amo as Três Marias:

Maria de Lourdes,

Maria mãe de Jesus,

E todas as Marias que por aqui escrevem uma existência sem glória.

Encantam-me os rabiscos de papéis feitos por crianças que amam pintar.

Cativa-me ser pai.
Cativa-me ser poeta,

Ser menino voando por ai,
Cativa-me amar a face inebriante da arte.

A Monalisa,

Rembrant,

Rubem Alves,

Mozart,

E a ternura das montanhas de gelo do Nepal.

Sou cativo de mim mesmo e agora liberto o sonho preso na varinha de condão.
Daqui do meu lugar transporto mundos na ponta dos dedos,
Diante da face tenra de uma olhar que cativa o mundo.

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