sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Tempo e Espelho



A vida a ferro e fogo dilacera o tempo,

Fogueira acesa ao frio do inverno nas montanhas.

A boca disseca o verbo enquanto o paladar dissolve o mel das palavras.

Seca-se a erva ali onde o olhar alcança a linha do horizonte,

Traço de um artista onde céu e terra se encontram e se fundem.

No fundo, toda palavra é dor ou amor do espírito anelante.

O espelho é porta para que o eu se perceba tíbio.

A imagem ali é força ou fraqueza de um ego em construção.

O que não é espelho é feio: narcisismo mórbido.

O medo faz parir titãs: janela aberta para a paranóia pueril.

Sinto um frio que não vem do mundo exterior,

A angústia tece o fio do desespero, enquanto a mente mente

Desprezando as cavernas lúgubres do ser que se devora.

Mar em fúria esse inconsciente que agita a gente

Que nem quer saber se o mar é mar.

Daqui do meu lugar eu observo o mundo.

Silêncio profundo se faz em mim enquanto sangro poemas.

A vida é breve como breve é uma bolha de sabão.

Estou aqui, ancorado no tempo,

Navego na espera, enquanto isso,

Vejo asas deltas adejando o céu da cidade.

O cais está ali e parte de mim é apenas desejo.

O meu nome é "tempo que não passa",

E eu, sou apenas, a pena que vaga por ai entre o tempo e o vento.
Miragem de um velho espelho luscofosoco que me alicia a ilusão.

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