A aranha tece o fio da teia que constrói seu sonho no v de um vão.
Lá fora, a lua inerme faz o espelho d’água pratear o lago.
A noite veste de escuridão a vida outrora verde, antes do azul partir.
Grilos pulam e encantam enquanto cantam à luz de vaga-lumes ébrios.
Se o sol não vem, de uma espessa sombra surge o opaco manto que reluz estrelas.
Os sapos coaxam sob a brisa suave que prateia a lua que pranteia o sol.
Lá fora em algum lugar a minha alma habita outras almas.
Porque em mim habitam mundos e constelações de almas iridescentes.
Visto o meu ser com a noite quando choro a aurora que não veio.
Minha estrela-cadente mergulha veloz a alma infinda do universo de amores findos.
Seca-se a roupa no varal, mas não sossega a dor de pés que trafegam labirintos de espelhos.
Sinto-me cometa que acomete espaços siderais de pensamentos cálidos.
A cigarra canta sozinha no caule do umbuzeiro.
O que canta a cigarra que não canta minha alma à sombra de uma flor?
Canto o canto da esperança no canto contida por mimetismos serenos.
Do que tem medo a minha alma? Ela teme ser esquecida. O ostracismo meu senhor!
Do que é feita a alma? Será de sonhos?
Do que é feito o mundo? Será de ilusões?
Não sei dizer. Só sei que se o sol se for morre em mim a luz.
A alma e o mundo se completam, são meras distrações.
A aranha continua ai no mundo tecendo espaços.
O sol dá o seu giro e eclode em luz que ilumina o lago outrora prateado.
A cigarra ainda canta e o vento no varal faz coaxar batráquios.
Quanto a mim, como os outros, sorvo o mundo e na alma vivo sonhos e ilusões.
Seria isso a escuridão que veste a noite quando o sol não vem?
Não sei do que é feita a noite,
Mas sei do que é feito o amor que doura a vida.
O amor meu senhor, é feito de centelhas da eternidade.
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