Vinte e cinco anos se passaram e ontem um amigo completou cinqüenta.
Vê-lo envelhecer, me fez pensar o quanto a vida é breve.
Breve é o tempo, como breves são as amoras.
Breves são os sorrisos, mas não sei por que as lágrimas se eternizam.
Enquanto os meus olhos o viam, eu me vi.
Vi-me menino, sem perder de vista o adulto que sou.
Eu aprendi que os homens são feito uvas verdes: amadurecem com o tempo.
Vê-lo foi recordar da fragrância de uma infância destilada em afeto.
Ontem um amigo de meio século viu-me, há vinte e cinco anos distantes.
O que vêm os amigos? Que lembranças guardam de si e de nós?
Como imaginam que são vistos? O que sentem, pensam ou desejam?
Não sei dizer, só sei sentir.
Os amigos existem para passarem gerações como cúmplices da beleza.
O que é feio não deve ser lembrado.
Apagamos a tudo o que torna-nos desprezíveis. Esquecemos.
Amigos são indulgentes, porque sabem que a vida é um fardo que pesa na alma.
Erasmo de Rotterdam define o esquecimento da velhice como um retorno à infância.
O delírio de um, habita no repouso do outro.
O velho e a criança se fundem no fim da vida.
O Esquecimento é uma benção quando nos redime das lembranças do passado.
O que eu preciso esquecer? Como não lembrar o que preciso olvidar?
As cãs brancas, as rugas e o corpo já esgotado pelos idos anos.
O que a minha simples presença o fez lembrar?
No fundo, eu queria avidamente lembra-lhe que não se esquecesse do começo.
No começo da vida somos todos idealistas, sonhadores e amantes da vida.
Na maturidade declinamos e uma sutil tristeza se avizinha para ofuscar o riso.
Daí o que resta é um pessimismo brando e uma amarga contagem regressiva.
Mera distração de uma alma que finita se desfaz enquanto se desfaz do corpo.
Os animais não possuem consciência de um fim do ciclo vital,
Por isso, não sentem medo, fobia, ressentimentos, fé ou culpa.
O meu amigo e eu éramos ali, como os últimos moicanos numa terra sem lei.
Só eu podia testemunhar que sua existência fora feita de milagres.
Eu gosto dos amigos porque eles envelhecem juntos.
Eles também preparam o mundo dos filhos à medida que deixam laços do amor.
Hoje tenho quarenta anos, mas desejo soltar pipas por ai.
Quero escrever poemas, livros, fazer canções e viajar pelo mundo.
Quero envelhecer com alma de menino visto que, quando menino eu possuía alma de adulto.
Quem sabe a vida me premie com jardins floridos,
Sorvetes de morangos e muitas paçocas de amendoim.
Eu quero esquecer; esquecer, simplesmente esquecer e amar, amar e amar.
Quero que as minhas filhas saibam que eu fui um Benjamim Button na alma.
Quero morrer sem medo, porque tive coragem de viver.
Quero assumir minha fé, mas repousar no amor a vida que construí.
Quero seguir minha estrada, caminhando e cantando e sorrindo à canção.
Ontem um amigo me fez lembrar que viver é possível quando o amor é possível.
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