quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A Verdadeira Amizade

 


Não sei como começar a escrever este poema,

Sei como sentir o que fomenta sua existência.

Sou um homem de poucos amigos,

Mas quando os tenho, sou amigo de verdade.

Certo dicionarista define amizade como sendo,

Um “afeto que liga as pessoas”.

Se isto for verdade eu tenho menos amigos do que eu mesmo imaginava.

Se a palavra afeto significar carinho, logo meu grupo de amigos fica menor ainda.

Carinho é um sentimento que as pessoas possuem quando desejam o bem do outro.

O bem não pode ser restrito apenas a um sentimento,

Na amizade o bem se transforma em prática.

Prática é uma espécie de ação movida por atitudes movidas pelos sentimentos.



Sendo assim, ao julgar as ações dos que se diziam meus amigos,

Eu descobri que andava ladeado de inimigos e não sabia.

Judas beijou a face de Jesus e deu-lhe afeto.

Expressou-lhe carinho numa atitude prática que parecia querer-lhe o bem.

Jesus o chamou de amigo.

Mas amigo de quem Judas era?

Ou Jesus falava de si mesmo, de seu sentimento por ele,

Ou ignorava o que o TRAIDOR fazia às escondidas.

Ou ainda, Jesus insistia em não apagar a imagem do começo.

Os Judas existem porque os amigos existem.

Os Judas existem porque são como erva daninha: 


Se multiplicam, crescem rápido, são plurais e você os encontra em qualquer esquina. 


Em tese os Judas não são amigos, são especialistas em beijos na face.

Os Judas Modernos beijam, pois beijos são afetos dados na intimidade,

Os Judas são falsos amigos, estão ao lado, mas não do mesmo lado.

Carregam a bolsa e até discursam sobre nardo derramado de vasos de alabastros.

Eles possuem aparência de generosidade quanto aos pobres. 


Pobre de quem acredita! Eles são o fim em e de si mesmos.

São aplaudidos, sorriem constantemente, mas instilam veneno.  


São como a Hidra em seus relacionamentos. 


De faces não entendem só porque beijam, mas porque possuem várias.
  


No fundo eles só querem o bem de si mesmos,

Não se importam se o amigo será crucificado ou morto.

Os Judas são fissurados por PODER, DINHEIRO e GLÓRIA.

Insulflam conflitos, agem por fisiologismo, adoram elogios e tapinhas nas costas. 


Lull tinha razão, são velhas raposas disfarçadas no galinheiro, lobos entre cordeiros.

O que devo pensar da amizade?

Um amigo se doa, dá sua vida, é cúmplice.

Um amigo é justo, corrige em amor, não escamoteia.

Um amigo reparte as poucas moedas que possui, acolhe.

Chora junto, levanta o outro na fraqueza.

Diz a verdade, olha nos olhos, confronta e mostra o caminho.

Não se vende, nem vende o outro, nem dissimula.

Dizem as Escrituras: “Mais vale um amigo próximo que um irmão longe”.

E ainda: "Há amigos mais chegados que irmãos".




Os Judas possuem uma característica comum,

Todos são DIABOS. Foi assim que Jesus os definiu.

E por natureza o Diabo é um gênio do mal, enganador e sub-reptício.

Os Judas parecem ser tão próximos que Jesus disse: “O traidor é o que mete a mão comigo no prato”.

Não sei definir a amizade, só sei ser amigo.

Os meus inimigos sabem que têm em mim um amigo.

Um amigo, eu imagino, não deixa o outro entre abismos.

Um amigo se importa, cuida de tudo o que é o outro.

Ama a família, não o abandona e sequer faz-de-conta.

Um amigo não fala mal, põe-se como escudeiro. 


Não encobre os erros, mas protege do perigo e aplica a justiça em amor.




Não haveria a cruz do nazareno caso não houvesse o Judas: o traidor.

Não haveria o Judas caso não houvesse as trinta peças de prata.

Não haveria suborno caso não houvesse os sacerdotes.

Não sei porque os sacerdotes estão sempre ligados a comprar e vender alguém ou coisas.    


Deve ser pelo fato de estarem relacionados com ofertas e sacrifícios queimados: holocaustos.  


Não haveria o beijo na face caso o traidor não se vestisse de irmão numa amizade velada.

O fato é que Jesus não ressuscita para Judas, mas morre por causa dele.

Os Judas terminam sempre enforcados em ACELDAMA: campo de sangue.

Os campos comprados por suas famigeradas moedas são os mesmos que os sepultam.

Os amigos vivem para sempre, porque a amizade vale a pena.

Eles ressuscitam e seguem para a Galiléia, ao lugar do reencontro.

Dificilmente queremos reencontrar a quem vendeu o seu lugar entre os doze.

Porquanto amigos não se vendem nem por pratos de lentilhas.



Sabe mesmo como defino amizade? Como o Galileu a definiu:

“Eu já não vos chamo mais de servos, porque os servos não sabem o que faz o seu

Senhor; chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi do meu pai vos dei a conhecer”.

Na verdadeira amizade segredos não são instrumentos de morte,

Não há escravidão nem se vive do sangue do outro, visto que amigos não são vampiros.


O saber sobre o outro não é um cadafalso para a morte,

Entre amigos, segredos são caminhos para justiça e paz.
 


Caro leitor já que conseguiste chegar até aqui neste poema,

Tenha cuidado de si mesmo. Seja amigo de si mesmo.

Canja de galinha e um pouco mais de reservas nas suas amizades não faz mal aos olhos.

A verdadeira amizade? Existe, bem ali onde os Judas existem.

Onde os Cristos ainda são beijados nos jardins junto à serpente.


Eles precisam existir, pois de que outra forma conheceríamos pessoas peçonhentas? 



Lembre-se, há sempre alguém neste mundo por quem se valha a pena viver.

Não há só Judas entre os doze. Os Judas não duram para sempre.

Eles dão lugar aos Matias (homem de Deus) da vida.

Os Judas depois de matar o amigo – objeto de seu ódio inconsciente ou não,

Suicidam-se, visto que não suportam a dor imposta amigo pelo silêncio do amigo.

A natureza não dá saltos. Vigora-se nela a lei do retorno.


Até a sociedade celebra os Judas de forma clássica:

Pendura-lhe na forca e depois de bater-lhe muito, queima-o.



Todos nós sabemos que os Judas têm vida breve.

Ninguém os fere, eles mesmos causam o seu próprio óbito.

Depois de contar nos dedos, escolha alguém para amar,

A despeito do mal que possa causar-te.

A amizade é uma necessidade dos homens.

Tenha amigos e não descuide, seja amigo de verdade para alguém.  

A amizade é pão que se come acompanhado do chá de tília em invernos frios.

A amizade é perfume que exala o amor quando a primavera viceja nas montanhas.

É bálsamo que umedece a pele sarando feridas abertas dando-lhe refrigério.

É canção de amor entoada no entardecer.

É finalmente, um lugar onde a gente não precisa das máscaras. 


A amizade é um lugar onde se pode amar.

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