quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Quando o Amor É Dor!



          Restam poucos dias para findar o ano de 2011; águas que passando movem moinhos, moinhos meus de ventos idos. E eu hoje, amanheci com o coração sentindo um misto de leveza e embotamento. As mãos querendo escrever o que a razão me nega dizer e fazer. Quero escrever sobre algo que até o momento não sei expressar. Os dedos seguem os instintos, mas a mente não tem nada para se apegar que pareça valer à pena.

Devido à necessidade de expressar-me e por não suportar estar só, em silêncio comigo mesmo. Escrevo para sentir-me acompanhado por mim mesmo, na companhia dos meus muitos eus. Há momentos que somos a melhor companhia para nós mesmos.

Outras vezes, somos apenas fadiga do ego; não nos suportamos. Em meu monólogo-dialógico, eu pensei em falar sobre muitas coisas, mas não vi sentido no que ia dizer. Às vezes os sentidos das coisas se esvaziam e o vazio é a mais pura certeza que possuímos. Foi num ato de pensar e sentir que o Criador fez brotar as coisas. Primeiro o vazio, depois a eclosão dos mundos. Primeiro a não-forma, para depois as formas.

Do nada, tudo se formou. Nesse sentido, a criação é puro sentimento do Deus Eterno. Por isso a beleza em tudo que ele fez. Mesmo a palavra brota do silêncio. O mundo criado é mundo sentido e não apenas pensado. “Porque Deus amou (sentiu) o cosmos de tal maneira...”

O nosso estado de alma, o que sentimos determina o que vamos pensar, dizer ou fazer. Nesse sentido, pensar, dizer, escrever ou fazer é eclosão do sentir. Num cubo, é como me sinto agora. Meu mundo interior está nublado. Acho que sei a razão, mas quem souber morre! Costumo ficar assim quando embaça a minha interioridade.

Não é tão difícil neblinar o meu mundo; basta uma palavra pelo avesso, e uma atitude de incompreensão da pessoa que amo, e pronto. Às vezes me sinto pequeno na alma, quando pessoas tentam me definir sem certezas. Muitas vezes eu sou sensível o bastante para hibernar nas minhas cavernas sombrias. Henry van Dykee, um pastor protestante norte americano que viveu entre 1852 e 1933 traduziu melhor o que sinto agora, ao dizer:

"Eu vou envelhecer, mas nunca perderei o gosto pela vida, porque a última curva da estrada será a melhor”, e ainda: "O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que
têm medo, muito longo para os que sofrem, muito curto para os que se
alegram. Mas para os que amam, o tempo é eterno."

Será que vale a pena tentar entender o mistério da vida? Como entender o outro quando o outro lê em nós o que não escrevemos, ouve o que não dissemos e vê o que fizemos? Sinto-me inútil ante os mistérios do amor. O amor é abismo.

Daqui do meu lugar, insignificâncias minhas são relevos. Sinto-me um Moisés na travessia de mim mesmo. Com pés úmidos, entre abismos, atravesso o mar vermelho de angústia e incompreensão. Respingos do Nilo habitam meu ser anelante.

A esperança de que a paz volte para o seu ninho é o que mais desejo. Rios de sangue e lágrimas lavam minha alma pássaro, e sob sol intenso levam-me para o deserto mais próximo.

Eu acho que Bachelard tinha razão: “Ainda existem almas para as quais o amor é o contato de duas poesias, a fusão de dois devaneios”. Haverá sentido em alguma coisa sem amor? Haverá sentidos? Há sentido para as poesias? Quando amamos o que amamos? Olho ao redor e só vejo areia! Canaã parece estar longe!  

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