As águas que bebi no rio da vida eram doces e suaves.
Um tom de amor me fez molhar a face em seu azul céu refletido.
Minha alma se deu à beleza e da ternura me fiz refém.
As águas que bebi se tornaram amargas quando, feito cinza se desfez a canção.
Dor de um poema que se fez pó estelar no manto anil de céu profundo.
Tudo em mim brilhava como um cristal bonito.
Resta-me agora a possibilidade de um dia fazer-se ouvir a voz das aves.
Para onde olhar se o que vejo são as sombras? O futuro é um rio que ainda não me banhei.
Perdôo-te, esqueço-te, sem apagar-te da memória: rio em cujas águas me vi.
As águas que bebo agora são águas barrentas. Como refletir-me nelas?
Quem me dera poder provar o amor na íris dos olhos?
No cristalino dos olhos o olhar se faz rio que percorre a vida.
Quero um rio que me leve para o amanhã.
As águas que bebi lavaram-me a alma e levaram-me a dor.
Bebi da amizade, desfrutei do amor.
Do amor bebi.
O passado é taça de vinho acre-doce sorvido em silêncio.
Perdão é isso, uma taça de vinho bebida na fissura da vida.
As águas que bebo agora são águas que me transportam para a eternidade.
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