Em Momória de Carlos Drummond de Andrade!
Uma nação é feita por sua gente.
É o povo que ergue uma pátria.
Seus símbolos, sua cultura e sua religião.
Eu, por definição, sou brasileiro.
Mas o que é ser brasileiro? Brasilíndio? Negro? Branco?
Sou nordestino. Baiano, natural de Feira de Santana.
O que sou num país tão imenso?
Há outras tantas expressões de brasileiros que já nem sei dizer.
Somos mistura; sincretismo, multiforme beleza e ternura multicor.
Somos vários brasis num só Brasil.
Nos chamaram de o “País do futebol”,
Mas fomos do café, do cacau, da cana de açúcar e da cachaça.
Somos um povo roubado. E aprendemos a parecer honestos.
Muitas vezes lesado pela mão de quem traz o chicote.
Somos negros, brancos, mulatos, mamelucos e cafuzos, confusos.
Somos peles vermelhas, na vermelhidão da vergonha.
Somos nipônicos, ibéricos, galeses e germânicos.
Fomos África, hoje somos maioria esmagada.
Nossos filhos querem outras pátrias, pois viver aqui é uma indecência.
Somos um povo inteligente. Fazemos artes!
A arte nos grassou até no crime. Nosso estereótipo? O malandro!
Somos um crime organizados e desorganizados somos um crime.
Somos a nação mais cara do mundo. Ser brasileiro é um luxo.
O nosso lixo usa terno e gravata.
Somos favelas. A pobreza é mantida para forjar os políticos sazonais.
O Brasil é muito grande, quem sabe um dia se organize do caos.
Os partidos políticos são sua maior desgraça.
O povo estuprado pelo poder não tem podido mais nada.
Viva às oligarquias! Viva ao capital estrangeiro!
Do banco de espera eu desejo um dia ter um banco para ganhar dinheiro fácil.
Somos todos marginais numa pátria sem respeito.
As leis existem para alguns; cadeias para pobres pretos e pretos pobres.
A ditadura econômica deu lugar ao satanás da desfaçatez.
A religião engana o povo: nosso ouro continua sendo levado dentro do santo.
A educação foi empobrecida: para que formar um povo inteligente?
Roubaram a merenda escolar, mataram a professora e o quadro negro agora é afro-brasileiro.
Negro mesmo, é o quadro dessa discaração crescente.
A justiça serve aos poderosos.
O trabalhador é espoliado e nessa vida só cabe a dor e o silêncio.
A saúde é o lugar legalizado para matar nos corredores.
Temos que levar a saúde para uma cirurgia aguda e demorada.
Temos tantas belezas! Tantas riquezas à nossa volta; doce ilusão!
Os nossos índios clamam e ninguém os escuta. Coisa de índio.
Por estas terras meu senhor, manda o grileiro,
o traficante e a mão de veludo do senado.
Os deputados, prefeitos e vereadores sangram a nação. Magarefes!
Eu queria mesmo era ir morar em Pasárgada, há mais justiça por lá.
Eu tenho orgulho de ser brasileiro. Fantasia de menino!
Pagar o que a gente paga.
Viver como a gente vive.
Viajar nas estradas que a gente morre.
“A gente morre na BR 3”, disse o poeta.
Comer o que a gente come e ganhar o que a gente ganha,
Só sendo um povo patriota que luta pela sua bandeira, ou ignorante.
Viva os estádios de futebol! Quem precisa de educação?
Viva às filas que matam nossos velhinhos!
Viva a Ilha das Flores!
Viva à FIFA! Viva os ministros que roubam, mas fazem! O que são dez milhões?
Viva à fome e ao “Fome Zero”! Mera distração num país de mortalhas.
Viva ao carnaval! Viva às doenças, às drogas e às clínicas de aborto!
Viva ao país das ONGs fantasmas.
Viva à brava gente brasileira.
Viva ao sertanejo, ao êxodo rural e ao Ministério da Agricultura.
Viva ao rock in Rio e o axé pela riqueza da musicalidade estéril.
Viva ao PT, mar vermelho sangue que já não há Moisés para atravessá-lo.
Viva à Ditadura Militar e seus segredos.
Viva aos evangélicos! Viva ao Cristo partido por estes e sem partido, partindo.
Dizem que somos um povo valente, resiliente e resistente.
Eu não duvido. Ser brasileiro é não ser, sendo. Afirmando-se a cada dia.
Viva à impunidade. Viva ao metrô de Salvador! Um dia sai!
Viva à hipocrisia! Que viva o povo brasileiro!
Viva ao mico-leão-dourado, que vale mais que a vida humana!
Viva ao desmatamento da Amazônia.
Viva aos pedágios do Brasil, sobretudo os da Bahia!
E não haverá país alguma!
Corram! O inverno vem vindo!
Siga para Pasárgada o quanto antes!
Ai que saudade de Drummond! Pelo menos este dizia a verdade!
Viva ao Pré-sal! Viva ao ENEM e às suas 13 questões anuladas em Fortaleza!
Viva ao governo desorganizado que combate o crime organizado.
Viva à política externa do país. Mera distração que nos mata aos poucos.
Viva ao cuidado que se tem pelos deficientes.
Viva pelo amparo aos menores!
Aplausos pelo cumprimento das leis. Viva aos motoristas bêbados!
Viva pela cultura das baladas: dela saem muitos acadêmicos e cientistas.
Viva às taxas elevadas de juros. Viva o CID e ao DENIT!
Viva à poluição sonora, visual e das ruas e ares das cidades.
Viva aos engarrafamentos das capitais! Distração insólita!
Viva a morte travestida de ignorância nas cidades. Pura indiferença!
Viva ao silêncio dos intelectuais. Salve-se quem puder!
Viva aos sistemas penitenciários que recuperam os perdidos.
Sabe a diferença entre prisioneiros e muitos magistrados? O lado onde sentam no tribunal!
Viva a contaminação por chumbo de Santo Amaro. Viva a França!
Viva a velha prostituta dos interesses estrangeiros: Brasil terra adorada.
Viva à ONU: terra de ninguém.
Deus morreu; viva Deus! Viva a Nietzsche! Viva a Rubem Alves!
Que viva o povo brasileiro!
Uma nação é feita de gente com o mínimo de respeito, vergonha e decência.
Assim cantou o poeta: Brasil mostra a tua cara... Qual é o teu negócio...
O nome do teu sócio... Confia em mim! Cria vergonha Brasil!
Do contrário seremos Alices no País das Maravilhas!
E tudo não passará de um conto de fadas!
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