quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Tecido Dos Sonhos!


Minhas recordações são intermitentes como chuvas no sertão.
Lembro-me do tempo em que a cigarra fazia a nossa trilha sonora.
Quando a brincadeira era o tom mais doce da melodia da vida.
Não havia a sala de brinquedos,
Havia o mundo, a rua, os quintais e o coração feliz.
Dizem que recordar é viver!
Para mim é reviver!
Eu quero me lembrar das coisas que emolduram a eternidade em mim.
A vida é um conto ligeiro e na partitura do tempo, a minha, é uma pausa.
Na vida, em tempo de guerra, eu tive que “agir como um tigre”, para citar Shakespeare.
Meus brinquedos foram roubados pela vida adulta que cedo, me amanheceu.
A guerra de um homem não começa quando dispõe das armas, mas quando a infância é roubada.
É na criança que se constrói ou destrói o adulto. Pelo broto se conhece a flor.
Eu aprendi a reinventar a mim mesmo muitas vezes.
Um homem tem que ser a reinvenção de si mesmo sempre.
Uma dialética sem fim se fez verdade em mim.
Uma foz espumante de águas turvas.
Rio e mar, num amar de um mar de amor de amar em mim.
Por muito tempo eu não tive brinquedos.
Sendo assim, eu brinquei com as estrelas.
Às vezes, eu não as tinha para brincar, sob céus nublados.
Então, eu brincava comigo mesmo ante o espelho.
Quando não tinha os espelhos, posto que partidos,
Eu brincava com o silêncio.
Tentei ouvir meu próprio coração em dias frios.
Colhi flores! Recortei papéis e decalquei os sonhos.
Brincando eu me entregava à imaginação e ao amor.
Posto que o amor não subsistir sem a beleza.
Para Shakespeare “o verdadeiro nome do amor é cativeiro”.
Há coisa mais cativante que a beleza?
Cativo do amor e da beleza,
Eu fiz da minha vida uma porta para a liberdade.
Eu simplesmente brincava por amor ao mundo e a mim mesmo.
Brinquei para esquecer a fome.
Brinquei para esquecer a dor do meu próprio estômago.
Brinquei só pra passar o tempo.
Brinquei porque não queria crescer.
Brincando fui Super-Homem, Zorro, Aladim e Peter Pan.
Fantasia de menino cativo no amor.
Minhas recordações continuam intermitentes. Mas resistem!
Na janela de onde avisto a vida, tem um parapeito.
Para que parar o peito se meu velho coração viaja sobre trilhos?
Minhas lembranças são a estação do trem do desejo que em mim navega.   
E da janela deste trem, avisto um homem, regando as flores.
É um jardineiro!
Está velho! Tem os traços do menino de ontem.
De qual flor ele cuida? Planta em folha, caule e flor.
Felício, junto à Flor de flamboyants maduros.
Ele brinca. Está feliz!
É possível ver o seu sorriso da janela que abriga o trem.
Shakespeare tinha razão: “Nós somos do tecido de que são feitos os sonhos”.
Os meus sonhos são feitos de finos tecidos: linho e seda.
Os meus sonhos, meu senhor, são feitos do tecido com que se faz a felicidade.
Amor, alegria, verdade, ternura e simplicidade.  
   
  


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