sábado, 12 de novembro de 2011

E Agora José? O Brasil Na Sarjeta!




O farrapo na sarjeta é um homem.

É humano o farrapo na sarjeta.

O ser humano é aquele que possui um polegar opositor.

Antes de estar na sarjeta, ele estava num bar.

No bar escondia-se atrás de um copo transparente.

Com o seu polegar opositor segurava o copo da cachaça que bebia na transparência.

No copo estava destilada a cachaça brasileira.

A cachaça é um produto da nossa indústria.

Fruto da nossa agricultura.

A indústria do alimento que alimenta o mercado.

Mercado é o lugar onde agentes econômicos trocam bens de consumo por uma unidade monetária ou por outros bens.

Uma dança entre a oferta e a procura.

O ser humano feito farrapo na sarjeta está embriagado.

Neste país as pessoas se embriagam por motivos reais, às vezes.

No caso do homem da sarjeta: o desemprego, a exclusão e a fome. 

O mercado de onde ele vem e para onde todos vão, é capitalista.

Portanto, para aquele farrapo, feito ser humano na sarjeta,

Nada no mercado lhe cabia; nem a oferta nem a procura/demanda.

O homem da sarjeta é um operário, vítima de um sistema capitalista selvagem.

"Capitalismo é o sistema sócio-econômico em que os meios de produção são distribuídos de forma privada, visando o lucro e os direitos dos indivíduos".

O ser humano na sarjeta foi banido do sistema sócio-econômico do Estado.

Quase não é reconhecido nem como indivíduo, nem tem os seus direitos preservados como ser humano.

O farrapo jogado na sarjeta é um cidadão.

"O Estado é a instituição responsável pela organização e controle social da sociedade".

"Sociedade é o conjunto de cidadãos que compartilham propósitos".

Portanto, a sociedade é formada de seres humanos que não desejam ser farrapos.

O farrapo na calçada é um cidadão que não compartilha dos propósitos da sociedade, nem do Estado em que vive.

Portanto, um zero à esquerda.

Ele vota.

Ele crê em Deus!

Mora num barraco.

Toma ônibus lotado.

Sem dinheiro! Sem educação e sem alegria!

Acreditou na Pátira! Sua única culpa!

Ele tem um nome.

Seu nome? Já ia me esquecendo. O seu nome é José!

E agora José? Indagou o poeta.

O José em questão, é o homem feito farrapo, cidadão, operário, capitalista e membro da sociedade "amparada" pelo Estado onde vegeta.

José tem uma família e esta, também excluída, sequer imagina que o mesmo se abriga da chuva sob uma marquise na sarjeta.

José é brasileiro, do mesmo país onde se produz o petróleo, a cana-de-açúcar e a cachaça que o alivia da angústia de ser brasileiro e do risco Brasil.

O termo brasileiro cunhava-se para aquele que trabalhava na extração do pau-brasil.

Do Brasil para José só restou o pau.

O farrapo chamado José elegeu a partidos e políticos, mas estes o esqueceram.

Agora, quem está partido é o José e, na rua; como políticos, cães lambem sua boca sem se importarem com a vida do farrapo José. 

José destila em si mesmo o produto que eleva a economia e as riquezas brasileiras: o álcool.

Emblematicamente José é um marketing em pessoa de que o país do biocombustível tem também uma boa cachaça.

Mas o é também, de que seu país é injusto, desigual e hipócrita.

Mas quem se importa?

O Brasil fabrica os Josés que alimentam os cães.

Há outros Josés lesados pelo país afora: sacizeiros, alcoólatras, fumantes, aposentados, inválidos, mendigos, favelados, violentos, deficientes e criminosos.

Enquanto dorme, na sarjeta, José sonha um dia dar à sua família uma vida melhor.

Sonha José! Chorar para quê?

Usa o teu polegar opositor para te levantar, ou do contrário, ficarás prostrado para sempre em terra. Nessa terra adorada! O país mais caro do mundo!

Na terra que tu chamas de "Pátria Amada, Brasil"!

José dorme na calçada. A sorte é que José ainda dorme!

Silêncio! Não podemos incomodar o seu sono.

Caso acorde voltará para o bar e o copo: seu único bem de consumo que o consome. 

Amanhã ele acordará para país nenhum!

Pasmem-se! O ser humano, farrapo, bêbado, consumido, desempregado, faminto, excluído e esquecido pelo Estado, na sociedade capitalista é o José: cidadão brasileiro.

Nenhum comentário: