A fé é o cadafalso da razão.
Fere a jactância do orgulho.
A porta entreaberta espreita os vícios do espírito.
Soberanos, azorragues ditam a próxima oração.
O devoto se encurva, o bispo alveja-o na Sistina.
O capitalismo habita os lugares outrora sagrados.
Cão sagrado, pão partido, corpos desnutridos ceiam no patíbulo.
E nos altares a prosperidade é moeda de troca.
Pergunto-me, o que fazem os deuses com as dracmas?
Para que lhes servem as moedas? De que lhe serve o ouro?
Temam a Deus e atentem para a usura dos fiéis soldados de Mamom.
Eles só falam em dinheiro e prometem latifúndios na terra da promessa.
“Não ajunteis tesouro na terra”, disse o Cristo.
Mas esta mensagem é para os leigos apenas, dizem.
O clero finge estar autorizado a possuir aqui o que já foi desautorizado lá.
Raça de víboras; devora a carne dos pobres e fingem devoção.
A justiça é o cadafalso dos avaros.
Genuíno é o evangelho. Sofre o dano.
Tudo espera; tudo suporta e diz a verdade.
Reconstrói, perdoa e santifica.
Não há nada errado em abençoar, repartir ou dar.
Se o que dou visa os pobres, as viúvas e os órfãos.
Se o que dou é um meio de locupletar a gana Judas avarentos,
Logo, corroboro para que o mal finque raízes.
Hoje já não dá mais para fazer o bem sem olhar onde e à quem.
Ofertar não pode ser um ato cego de cegos que engordam caolhos.
A oferta é um ato de amor, consciente e com desígnios comunitários.
O que passar disso é alimentar utopias de aventureiros de terno e gravatas.
O que levava a bolsa era um dos doze.
O que roubava a bolsa dos doze era um.
Eram doze, mas um era ladrão.
Eram doze, mas um, o ladrão, não suportava ungüentos vertidos perfumando o Cristo.
“Desperdício”, dizia ele, de olho na bolsa.
Por que não se deu aos pobres? Um fingidor.
Ladrão! Os pobres estarão sempre entre vós.
Seu evangelho era o do lucro fácil.
O cadafalso da mentira é a verdade.
Os fiéis estão mais pobres e os anunciadores de prosperidade mais ricos.
Por onde anda o evangelho da graça? Está em desuso.
Não serve, é de graça demais para quem quer tudo pago.
Venda o seu carro, fique a pé.
Doe a sua casa, entregue tudo.
Latifúndio é coisa do demo.
E no fundo, refiro-me aos bastidores, os porcos chafurdam.
O evangelho foi posto a venda no varejo e no atacado, barateado.
Comprem o óleo, a fogueira, a arca e o ramalhete.
Passe pela porta; banhe-se no sal grosso; seja tolo.
E por ai a Bíblia esconde dólares de sacerdotes em fuga.
Quem dá mais? Pergunta o bandido.
“E farão de vós negócio”, disse Pedro o Apóstolo.
Quem dá mais? Indagam os cambistas no interior dos templos.
Balaão é pastor na igreja dos Nicolaítas.
O cadafalso do oprimido é a ignorância.
O evangelho é luz, mas não precisa comprar lanternas na igreja.
É cruz, mas não precisa pagar por pedaços de madeira de Israel.
O evangelho é espírito e vida e não um mercado livre que alicia o comércio.
Thomas More tinha razão, “pregadores hábeis e sinuosos (...)
Torceram e vergaram o Evangelho, como se fora uma régua de chumbo,
E moldaram-no aos costumes dos homens (...)
Desse modo, dão “(...) segurança e estabilidade ao próprio mal”.
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