quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Eudaimonia: Felicidade!


Um dia plenamente feliz é como chuva de granizo no sertão,
Ocorre, mas rareia-se o fenômeno a cada instante que passa.  
Ontem eu vivi um dia feliz.
Andei sob neblina e peguei a estrada sob o vento fresco da manhã.
Fiz o que mais gosto rumo ao tempo no sabor das palavras.
Fotografei pássaros e eternizei a aurora antes de discorrer poemas de amor.
Conversei com filósofos, teólogos e mulheres batalhadoras e amáveis.

Ouvi o Dalai Lama ensinar-nos a não atolarmos os pés na lama do mundo: a ganância dos homens.
Tímido, brejeiro e lúcido Drummond sussurrou ternuras.
Ontem eu cantei o Jobim, recitei Cecília e Lispector, tudo que amo.
Ontem foi um dia feliz, como outros dias felizes que a memória ainda mantém.
Como não ser feliz caminhando com grandes almas? Titãs do saber.
Comemos peixe e pão assados e achados na fogueira a beira do Mar da Galiléia.
O Nazareno esteve entre nós e nos fez vê-lo ressurreto e frondoso.   

Ontem vi professores assentados como amigos à volta do fogo.
Ao sabor do saber soubemos, ser simplesmente sérios, sensatos e sensíveis.
Não faltaram os helênicos nem os helenistas globalizados.
Epicuro deu o ar de sua graça enquanto colhia as rosas no seu Carpie Die.
Enquanto, parado ali, Sócrates se escuta reflexivo com a mão ainda sobre o queixo.
Platão negou-lhe a sicuta visto que era tempo de eudaimonia: felicidade.
 
Fernando Pessoa; que pessoa! Estava lá, segurando a lamparina em pleno dia.
O que ele procurava? Acredito que procurava o Nietzsche, ece homo, o Pai do Dionísio.  
Não faltou alegria na festa. As mulheres eram apenas silêncio na face, mas a alma sempre em folguedos.
Paulo Coelho, o Alquimista, ainda luzia o seu olhar desbravador entre nós.
Schopenhauer, mal humorado é que não me parecia muito bem, pois, tinha uma cara de necessidade e o tédio queria dominá-lo.
Camus insistia em colocar lenha na fogueira, sabia que a felicidade é pão que se come em comunhão.

Loucura mesmo fora Esrasmo de Roterdã falando do seu amor-próprio e rindo de alegria de Russeau que dançava em sua pajelança.
Ontem a felicidade escrita em papel de seda entrou como em cinema mudo entre nós e de bengala e chapéu preto meio surrado encantou.
Seus pés ligeiros promoviam a grita da alegria. Era o Chaplin bailando.
Johann Wolfgang von Göethe não resistiu ao vê-lo dançar e chorando disse: “Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira”.
Bertrand Russell um Lord inglês, trouxe à festa elegância e um ceticismo brando.
Paradoxalmente, e tocando sua melodia Gilles Lipovestsky queria que os víveres servidos à mesa fossem consumidos às pressas.

Eu mesmo arrisquei avisar aos convivas que certa garoa fina banhava os girassóis.
A eternidade se fez tempo e no tempo, instantes, ali onde a alma eclode ao espelho.
Ontem! Tudo isso foi ontem. Restaram apenas cinzas do folguedo de ontem.
Hoje me encontro à luz das cavernas.
Quando as trevas são a única luz que te rodeia,
Você tem que valer-se da luz que traz em si mesmo ou apenas sentir pulsar o coração na penumbra.  
Ilumino-me com a esperança. Ilumino-me com a luz de quem aprendeu a ver no escuro: a fé.

Como fumaça, meus heróis dissiparam-se e hoje me sinto só.
Apenas um ficou. O Nazareno. Mesmo tendo acabado as brasas da festa de ontem Ele ficou.
Daqui do meu lugar o meu nome é quietude.
É assim, quando todos se vão o Galileu fica.
Ele fica porque é o único que sem esgar o rosto sabe amar-me como sou.
Eudaimonia, felicidade, porque és tão volátil?
Perco-te à medida que te encontro. És fugaz e sombria, porém necessária.

Ontem foi um dia inesquecível!

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