domingo, 16 de janeiro de 2011

À Margem Do Rio



Sinto-me à margem de um rio caudaloso.
Daqui, pouco se vê la fora da vida que aflora do outro lado a flora.
O meu olhar sobranceiro alcança os maracás e as macegas.
Minha alma apega-se a tudo que sabe finitude.

A beleza, conquanto necessária, não resiste à efemeridade da vida.
A morte mata a tudo o que vê. Nega a vida que se afirma como vontade.
Schopenhauer cantou essa melodia: “Tu cessas de ser alguma coisa que terias feito melhor nunca ter sido”.
Um doce sonho que mergulha na tumba da inexistência.

Mera quimera é essa arrogância da morte.
Sua sorte está contada, a ressurreição há de vir.
O fato é que Arthur tinha razão quando cantava
“Um novo dia atrai novas margens”. Tudo floresce outra vez.

Sinto-me à margem de um rio sinuoso.
Daqui, eu tenho o céu como plano de fundo.
Thomas lamentou que “Aquele que não tem túmulo tem o céu por mortalha”.
Nasce o homem, põe-se Sol. Renasce o Sol e a vida gira numa gota.

Minha alma que esmera o fio de lã numa navalha,
Possui mundos diminutos na Via Láctea do tempo.
Se vivo, morro! Se morro, reencontro a vida escrevinhada nas linhas da eternidade.
A eternidade meu senhor, cabe aqui na minha mão, como um botão que se soltou do colarinho.

Sinto-me à margem de um rio ditoso.
É o que More solfejou: “o caminho para o céu é o mesmo onde quer que se esteja”.
Um caminho oblíquo se faz paralelo ao rio e meu ser desejante o atravessa.
Para onde levará esse rio? Eu não sonho deixar as suas margens?     




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