Hoje eu entendi que cuidar das rosas ao pé do muro é um ato de amor.
As flores possuem o poder mágico de startar sentimentos nobres e belos.
As rosas nos arrebatam para longe e nossa alma divaga entre espinhos, perfume e flores.
De longe vêm as coisas das quais sentimos saudade.
Foi assim que ontem, o longe me deu de presente a fragrância da eterna beleza numa doce lembrança.
De longe o vento trouxe-me uma folha seca, que grudou em mim.
Quedei-me calado. Assustado franzi o olhar.
Era uma folha voante, dessas que se apegando à nossa face,
Era uma folha voante, dessas que se apegando à nossa face,
E beijando-nos, asila-nos no mundo.
Eu me senti tocado pelo dedo de Deus.
Absorto, fiquei mergulhado numa sensação de eternidade: um eterno agora.
Poucas vezes eu havia sentido esse adejar profundo.
De onde poderia estar vindo?
Não sabia ao certo.
As folhas, meu senhor,
Quando fogem é porque rejeitam desaparecer, decompondo-se.
Folhas fujonas são folhas leves que o vento traz.
Secas, mas com memórias vivas do tempo de glória entre galhos no ramo.
Folhas fujonas são folhas que querem tornar-se inesquecíveis, presentes para algum caderno ou agenda que esconde poemas de amor.
Outras são aquelas que pairam fixas em quadros ou obras de artistas.
O fato é que folhas secas fogem para não pulverizar-se ao pé da árvore.
Destino comum das folhas que fingem não sonhar aventuras mil.
Para onde estava indo aquela folha? Ignoro.
Ademais, o vento é assim, transporta em si o que sem destino viaja no tempo.
Indaguei-me sobre a razão daquele encontro.
Introvertido, digo, vertido para dentro de mim mesmo,
Soltei as rédeas das lembranças da história e vi-me à mercê da vida.
Parado ali eu invejei horrendamente a folha.
Sua missão no ramo que cedia sua razão de ser, findou-se.
As folhas secas vivem porque são folhas realizadas.
Cumpriram o seu tempo e vinda é a morte em plena fragmentação.
Folhas verdes são folhas vivas; se seca, é pura desidratação.
Folha sem lágrima, cuja alma estancou-se com o tempo.
Folha seca é folha outrora verde, amarela ou simplesmente degradê.
À luz daquela folha seca eu percebi que o verde em mim se foi, quando me fui do último ramo florido de invernos meus.
Galho cuja seiva a árvore de que pertencia não oferecia mais.
Desidratada, minha alma espera as chuvas ou o orvalho da noite.
Sinto-me flor que brota ao pé de cachoeiras em florestas virgens.
Seca, a folha em mim se fez espelho e ai eu descobri o quanto vago pelo tempo à luz do vento que respinga gotas de saudades.
Para onde vão as folhas que chegam e logo desaparecem em silêncio?
Para onde despencam os homens quando feito folhas rumam incertos por ai?
Para onde retornam as folhas e as flores?
Para onde retornam os homens e os sonhos?
Para onde retornar se tudo aqui é vazio?
Para onde retorno eu?
Quero sair por ai, voando sem destino para vê se encontro abrigo entre folhas de um caderno, um livro que contenham versos com mensagens de amor.
Quero sair por ai, voando sem destino para vê se encontro abrigo entre folhas de um caderno, um livro que contenham versos com mensagens de amor.
Vou seguir o vento, para ver se ao menos acho o gotejar de uma cachoeira feita à mão.
Quero o sereno da noite.
Quero o orvalho das manhãs.
Quero o hálito da ternura junto a face que transporta sonhos.
Quero seguir o meu destino, folha seca rumo ao mar de amor imenso.
Quero simplesmente o afeto que enternece os olhos.
E de olhos fechados sentir a fragrância de jardins de flores iluminadas ao pequeno Sol, de sóis que habitam em mim de eternas manhãs.
A folha seca que feriu minha face,
Seguiu para o seu eterno retorno,
E quanto a mim, estou aqui vivendo.
Para onde retornaria eu?
O meu entorno é vórtice.
à minha beira, tudo é abismo.
O meu entorno é vórtice.
à minha beira, tudo é abismo.
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