terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tramelas!




A tramela da porta está aberta,
Ah! Essas tramelas abrem e fecham os mundos.
O telhado molhado da última chuva,
Respinga no batente à luz de vaga-lumes ofuscantes.

O cheiro de mato queimado ainda perfuma o caminho.
A cana cortada na carroça roça o chão rumo ao terreiro.
Tudo em mim é neblina e em meu céu nublado não possui estrelas.
A terra úmida faz florir as margaridas; o capim gordura cresce.

O balanço na árvore feito de pneu ainda gira.
Sombras do passado ainda riscam o fósforo da saudade.
Vejo-me menino, correndo, pulando, marejando os pés nas águas do amor.
As horas passam e eu aqui, viajo solitário ao quebranto de outrora.

Nesses quintais eu já fui índio, guerreiro, pivete e bandido.
Pivete é muitas coisas, porque sonha sendo tudo, não sendo nada.
Eu fui pivete, Super-homem, Homem-aranha e até o Zorro.
Minhas máscaras transportei no tempo. cresci, troquei-as por outras. 
Já fui rei, já fui pirata, escravo e jardineiro.

Erasmo tinha razão - Que é, afinal, a vida humana? Uma comédia.
Cada qual aparece diferente de si mesmo;
Cada qual representa o seu papel sempre mascarado, (...)
O mesmo ator aparece sob várias figuras,
E o que estava sentado no trono,

Soberbamente vestido, surge, em seguida, disfarçado de escravo, coberto por miseráveis andrajos.
Para dizer a verdade, tudo neste mundo não passa de uma sombra e de uma aparência, mas o fato é que esta grande e longa comédia não pode ser representada de outra forma (...)

Cada um possui a sua própria máscara.
O meu ser em si, de si se sabe seguro, insustentável leveza.
Fui saci e saciei-me sendo saudade sorvida junto à fonte.
Hoje sou Ícaro e alado, sigo pelo mundo a fora.
As tramelas ainda continuam abertas.  

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