domingo, 6 de fevereiro de 2011

Um Mico Em Meus 400 Metros Rasos

(Oi pessoal essa é minha primeira crônica aqui no Blog. Além dos poemas vou passar a colocá-las, afim de dar mais sabor e um novo tom intelectual. Desfrutem). 



Dois dias antes do que passo a narrar agora, eu recebi um email confirmando os dias de quatro a nove como sendo os dias de retiro espiritual da igreja que me convidara para ser o palestrante do evento. Surpreendentemente, eu consegui confundir a data e, o que era para acontecer no mês de março, tornou-se para mim, caso de urgência no dia quatro de fevereiro.
Esbaforido, sem consultar a agenda, visto que a certeza da data grassava o coração, arrumei as malas e cooperei para que todos fizessem a mesma coisa, como se fugíssemos de uma guerra. Tamanha foi a agonia. Pegamos o carro, passamos no Banco, abastecemos num posto e seguimos para Salvador numa profunda sensação de estarmos atrasados.
Eu voava na pista, uma vez que tinha horário para chegar e temia duas coisas, a primeira, enfrentarmos um congestionamento na BR 324, artéria exclusiva para o nosso destino, e a segunda, o engarrafamento no trânsito dentro da cidade para a qual rumávamos. Sabíamos que as duas coisas poderiam acontecer, dado o horário que já avançado, fazia declinar o Sol para o seu ocaso. A noite se avizinhava e a alma tornava-se mais afoita, pois chegar atrasado nunca foi uma coisa que me agradasse.
O fato é que a vida é assim, o que a gente mais teme parece ser o que mais atraímos. O objeto do meu temor se me sobressaltou. Um acidente na pista provocou a paralisação de todos que seguiam de costas para o Sol. Entretanto, o mais desconfortável, para nós, foi o fato de ficarmos cerca de uns quatrocentos metros do local onde estavam as vítimas.
Ansioso, eu decidi sair do carro e postar-me de pé ao lado, no corredor, para fugir do calor que era terrível e tentar entender o que estava causando o meu atraso para o compromisso da noite. Dono de uma natureza intempestiva, aventureira e solidária, eu peguei minha objetiva (máquina fotográfica), sob o protesto intenso da família, desci a ladeira rumo ao desconhecido. Eu morreria se não desvendasse o mistério. Já me dava urticária ficar ali ignorante de tudo e fazendo conjecturas.
À passos largos, com o pé protegido com uma meia que deslizava num sapato semi-folgado por conta do declive da pista; uma bolsa do lado, todo engravatado segui afoito e célere.
No caminho eu passei por diversas pessoas irrequietas assentadas sobre, dentro e ao lado de seus carros. Alguns veículos de cargas de bois, galinhas, porcos e cavalos entremeavam os carros particulares; e eu, aturdido, suando, prestes a escorregar, desviava de seus sons naturais corria crendo no êxito da minha missão.
Aquele parecia um dia para ficar na história. Ao aproximar-me do local desejado, trezentos e noventa metros depois do meu lugar de origem e de onde eu jamais deveria ter saído, notei que o problema havia sido  solucionado. Eu via de longe uma multidão cercando o local, todavia, ao aproximar-me, vi-os voltando ligeiro para os seus carros. Indaguei aos que passavam por mim sobre o que seria aquilo, temendo inclusive uma explosão, uma fera à solta ou um louco armado, contudo, estes me diziam estabanados:
_ A pista foi liberada.
Outros diziam:
_ Corra que a passagem está livre.
Ao olhar para trás os avistei vorazes, entrando em seus veículos. O meu coração sentiu pavor, pois o que eu temia, novamente viria sobre mim. Sequer eu pude ver o que de fato estava ocorrendo na pista, somente o carro da ambulância que estava na contramão sobre o meio-fio, entre as duas pistas, com suas luzes vermelhas ligadas, a Policia Federal que irrompia o acostamento com sua sirene ligada, provocando a poeira e um corredor apertado e longínquo para que eu voltasse em tempo hábil.
Rindo da situação e ainda ouvindo as vozes de protestos, eu agora podia imaginar as suas faces de reprovação e risos sobre o meu infortúnio. Na minha mente o mundo e as forças do mal conspiravam contra mim. A minha gravata já estava pendurada nas costas. A máquina que levava na bolsa não fez nenhum registro. Com os meus 110 kg eu corria os 400 metros rasos e fundos num desespero gritante. O coração prestes a sair pela boca, o peito ardia  e as pernas me faltaram. A coisa foi ficando dramática porquanto, além de vários conhecidos gritarem o meu nome – Pastor Robério tá malhando hem? -, e eu confesso que não os vi na descida e muito menos na subida, pois no ritmo que eu estava, malmente dava para enxergar senão os carros que sinalizei para guardar o território onde havia deixado o meu. 
Mugidos, relinchos e odor dos animais me serviam de GPS e mais nada. Eu sequer tinha notado que o meu carro estava escondido ou se escondendo de mim atrás de um caminhão. Quando olhe para trás notei que todos se iam embora e a pista foi ficando mais liberada. Eu precisava chegar antes que os carros que estavam imediatamente a frente do meu saíssem, pois a tensão que se vive nessa espera é mortal e as pessoas pressionam os mais lentos. Agora eu seria o motivo do atraso.
Ao chegar ao meu Pit Stop, com a língua para fora, o suor escorrendo pela gravata, os olhos turvos, garganta seca e escondendo todos os segredos do vexame da subida, assentei-me ao volante e foi a conta de ligar o motor e sair. Tudo que eu previra na minha maratona solitária, deu certo. Os olhares e os sorrisos denunciavam que eu merecia ao menos uma medalha por tamanho mico.
Ao passarmos pelo local do acidente lá estava um carro desvirado, pois tinha encapotado ao bater no fundo de um caminhão que transportava laranjas. Vários sacos de laranjas no chão e o véu da noite cobrindo o olhar. Seguimos avante, Gabriel, Talitha, Tábatha, Manoelita e eu o maratonista desajeitado.
Mais trágico ainda foi saber horas depois, que aquele não era o dia da pregação e que eu estava 30 dias adiantado. Por educação o Pastor, meu amigo, deixou-me ministrar e assim, eu narrei-lhe minha desventura. A igreja riu a valer e ao final, houve uma visitação do Espírito Santo na qual, 12 vidas se converteram a Jesus, a igreja foi quebrantada, enriquecida pela Palavra de Deus cujo tema, ironicamente, era - Não Desça Ao Vale De Ono em Neemias 6.1-4 -, e nós voltamos abençoados e regozijados com tudo que vimos e vivemos no fatídico, 04 de fevereiro de 2011. Ao final eu aprendi, que nem tudo que começa mal tem que terminar mal.    

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