"Uma flor nasceu na montanha.
Sua alva cor contrastava com o azul do céu,
Copo-de-leite salpicado de amarelo em tons marrons,
pendurada entre abismos ali onde o silêncio era sua única voz.
A montanha, grávida da flor ecoa no espaço sua alegria,
a eternidade ao seus pés ante às intempéries do mundo,
luta, reluta e vence a ternura que aninha-se nas escarpas,
sorve a luz, desperta o desejo das aves
pendurada entre abismos ali onde o silêncio era sua única voz.
A montanha, grávida da flor ecoa no espaço sua alegria,
a eternidade ao seus pés ante às intempéries do mundo,
luta, reluta e vence a ternura que aninha-se nas escarpas,
sorve a luz, desperta o desejo das aves
que aproximam-se de seu frágil ser.
Uma flor nasceu e a montanha.
Uma flor nasceu e a montanha.
Não pôde resistir à tão rara beleza,
chuva, sol, vento,
chuva, sol, vento,
cardos e espinhos açoitaram suas pétalas,
nada mudou, a flor insistia em viver,
nada mudou, a flor insistia em viver,
lugar-comum dos que sobrevivem,
nota sincopada na melodia dos que resistem à dor,
ao perigo e à morte.
No lago, um cisne desliza sutil ao sopé da montanha,
no ar uma águia absorve o infinito
No lago, um cisne desliza sutil ao sopé da montanha,
no ar uma águia absorve o infinito
plainando entre o céu azul e a alva flor,
um mar de núvens inibe do sol o açoite da luz,
a sombra dá lugar à quietude enquanto, a raíz em seu destino,
cava a montanha.
Uma flor nasceu e ninguém viu,
um mar de núvens inibe do sol o açoite da luz,
a sombra dá lugar à quietude enquanto, a raíz em seu destino,
cava a montanha.
Uma flor nasceu e ninguém viu,
bela, rara, cara e só,
entre colibris, papoulas e o cicio da noite que logo vem,
mão alguma a afagou,
mão alguma a afagou,
boca alguma a beijou nem seu perfume
pôde ser sentido.
Flor solitária, véu da noite que desvela o olhar,
Flor solitária, véu da noite que desvela o olhar,
uma oferta de amor ao ser finito
que se desfaz na manhã seguinte,
antes da próxima estação,
sob luas e sois desejantes;
uma flor, apenas uma flor,
uma flor, apenas uma flor,
amor em forma de simplicidade.
Na floresta,
Na floresta,
o verde musgo dos olhos que não vêm,
nas colinas outras flores silentes
nas colinas outras flores silentes
gemem suas dores no parto de outras montanhas.
Flores prenhes de sementes,
vidas que se fazem e reproduzem a beleza rara de seres finitos,
um gesto divino coberto com o manto de um mistério profundo.
Uma flor nasceu na montanha,
Flores prenhes de sementes,
vidas que se fazem e reproduzem a beleza rara de seres finitos,
um gesto divino coberto com o manto de um mistério profundo.
Uma flor nasceu na montanha,
uma montanha nasceu na flor que reveste-se de encanto,
no canto dos poetas, nas mãos dos amantes e na solidão das savanas,
uma flor nasceu, mas quem se importa?".
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