"As aves possuem cada uma sua especialidade;
o beija-flor é ave que pára no ar enquanto, beija a flor e suga o seu nécta;
Sua cor negro-azul-escuro o torna singular na elegância de sua altivez,
Façanha que o elege e o insere entre as mais belas das aves.
Seu vôo célere convida o olhar de quem passa sem querer ao estado petrificado, pára o beija-flor, pára o mundo de quem o observa enamorar-se das flores, rende-se à sua beleza e ao encanto de seus movimentos quem fita suas asas.
A magia ganha cor, forma e segundos que refletem a eternidade.
Foi assim, que em um desses repentinos momentos da vida,
Uma supreendente visão se me deu em lugar inimaginável;
Chovia lá fora sobre a espessa fumaça de carros que seguiam destinos,
E eu, absorto num assunto trazido por outras aves, me perdi no tempo.
Nem mesmo me achei quando deparei-me com o visitante inesperado,
Perdido, meio aturdido e sem nós pelas costas.
A pequena ave fugia de um céu que chorava suas lágrimas frias;
naquele instante se deu em mim um lampejo de profunda introspecção.
Um pequeno beija-flor, aflito, entrou pela porta errada, no dia certo;
Não havia saídas, embora houvessem espelhos e vidraças transparentes,
Mas de que servem os espelhos para quem não sabe ler sua própria imagem?
De que servem as janelas se não há flores nem jardins lá fora?
Tentei deter aquele espetáculo numa foto, não pude, mas o guardo na memória;
Nunca mais esquecerei a palavra dita pela ave que sem saber, assemelhava-se a mim;
Palavra que surgia da não-palavra, do vôo, da condição de perdida do seu rumo;
Neste sentido, aves e homens se igualam, se perdem e fogem do frio e da chuva lá fora.
Irrequieta a pobre avezinha não encontrava a saída,
contrapartida, não queria a ajuda de quem quer que a ameaçasse.
Sem grito, sem lágrimas e sem respingar as gotas que trazia em si do temporal; fez da fuga sua obsessão mais profunda.
Beija-flores não se sabem prisioneiros, antes são belos porque livres.
Entre um flash e outro, percebi o meu estado de alma voando com ele.
Ele tornou-se a expressa imagem daquilo que me tornou o tempo,
Refém do medo, de paredes invisíveis e da arrogância de muros altivos.
Me fiz ave com ele; solidário e solitário na minha mesmice.
Seu vôo é o meu próprio, para dentro de minhas tabernas psicológicas.
Não havia flores risonhas porque a chuva expulsara o sol,
só havia saudades de tempos fugit, havia sim, paredes cruéis sobre a ave que era eu.
Vi partir a pequenina sombra, um vulto que contrasta ao frio.
Beija-flores amam os sois, as manhãs, os jardins e as flores de primaveras;
como eu, se perdem entre quatro paredes, definham em padarias modernas; filhas do inverno, Beija-flores sonham com essências e percorrem o espaço entre abelhas e borboletas-azuis.
Quanto a mim, fui-me com a pequenina ave equanto, meu corpo ficou atônito e anestesiado no lugar.
Continuei preso entre pães, goloseimas e os problemas que feriam os meu ouvidos à algumas horas, voltei para minha realidade e percebi que parte de mim viajou com o beija-flor que sequer quis saber o meu nome.
Ah! Se ele soubesse que me chamo vento das montanhas!".
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