quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Lugar Sombrio



"Nunca pensei que o sol pudesse negar a sua luz;
fez-se pardo o amanhecer na selva de pedras,
entre prédios e metrôs, somente o olhar ébrio,
ao som de velhos sinos que já não tocam mais como antes os corações,
no topo de igrejinhas que morfam na tela da pós-modernidade.

Nunca pensei que as igrejinhas pudessem negar a sua luz;
a noite despertou cedo no coração da cidade impenitente,
e de trevas se cobriu o sol, ferido por já não ser notado como dantes;
os galos que cantavam nos galhos daqui, já não cantam mais,
e as cigarras, outrora presas nas árvores, calaram-se e partem-se de angústia nos vergalhões dos prédios em construção, longe dos candeeiros.

Nunca pensei que os candeeiros pudessem negar a sua luz;
ledo engano; as ruas de chão batido, terra molhada,
deram lugar a ânsia de homens que em seus cavalos de quatro-rodas destroem as camadas de nós e a camada de ozônio;
esta que, lá do alto, já não se encanta mais com a marcha lenta do passo do gado,
ao som da melodia de vaqueiros e boiadas que trilhavam veredas entre vaglumes e vales,
sem razão;

Nunca pensei que a razão pudesse negar a sua luz, doce ilusão.
Quem tem razão?
Que tem a razão?
Quem tem a razão?
Que razão?
A razão dos intelectuais, politicos e da elite que construíram o futuro à ferro e fogo,
mesmo sem razão?
Milhares de olhares clamam por ajuda e ela não vem.

Nunca pensei que o olhar pudesse negar a sua luz,
faces gélidas que vem e olhares sombrios que se vão,
rostos estranhos, perdidos,
pedindo socorro por trás do sorriso ou do silêncio sepulcral que encorpam.

Todos sentem medo, se apavoram e travam um monólogo com seus Si mesmos.
Vidas secas que se distraem enquanto sorvem a fumaça das ruas que as destroem e matam o ser.

Nunca pensei que o ser pudesse negar a sua luz,
desde o menor ao maior, todos se postam silentes enquanto definham,
os vagalumes gemem por um lugar à escuridão,
mas já não encontra olhares que se importam.

Alguns seres, apagaram-se com o último gole da bebida servida no último bar
aberto na encosta da noite.

Porém, o ser é coisa sem fim,
renasce, mesmo não sendo convidado;
é semente que ressuscita de Si para Si e de novo".

Nenhum comentário: