quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

À Manoelita Com Carinho - Espinho - Portugal 19-06-2008





“As begonias continuam ali onde vicejam às tardezinhas de outono,
e um ar de flores do campo me envolveu a saudade, enquanto, o tempo como um túnel se abriu ante os meus fartos olhos.

À medida que voltava o tempo, eu te vi, e me detive no começo, sim, no começo de tudo, quando teu doce olhar me encontrou pela primeira vez;

eu era apenas dor em forma de gente, minhas chagas não te foram encobertas,
mas, tu simplesmente sorriste, enquanto, tua mão tocava a minha frágil vida,
uma prece solitária eclodiu na eternidade.

Éramos dois, nós dois apenas, duas histórias simples e belas de se contar.

Vi o teu gentil olhar no interior da igrejinha onde nos tornamos um,
para dali nos tornamos três e depois quatro.

Talitha nasceu e a vi no corredor do hospital entre o teu e o meu olhar,
parte de mim estava ali, mas era a ti que eu via, enquanto, fitava a bela criança que sorriu e chorou, num inesquecível e singular instante.

Lembro-me também, quando Tábatha nasceu, pequena, singela e formidável.

Vi os teus olhos brilhando, mas não podíamos esconder a tristeza dos dias que vivíamos; assim, nós descobrimos que há flores que só nascem entre abismos.

Eu ainda me lembro;
dói em mim saber que nunca consegui ser o herói que desejei ser para ti, sinto-me distante de tudo que fui como promessa para teu mundo de sonhos.

Prometi a mim mesmo que acertaria, muitas vezes,
mas, fracassava a cada tentativa com esse meu génio indomável.

Aqui faz frio, um tipo de frio diferente, aquele que só a alma sente quando está longe, longe de casa, longe de si e do ninho e de tudo.

Lembrei-me quando a gente voltou para morar no barracão,


Vida dura, pura e simples, marcada por ternura e amor respingado de sangue,

Vi a tua força e as tuas lágrimas, e entendi o porque Deus me falava tão bem de ti.

Daqui da minha janela enquanto faço minha oração, eu posso sentir o vento;

Ah! Sabe qual é a cor do vento?:É lilás, com um tom de azul-turquesa nas bordas; além dos meninos, só os poetas podem ver a cor do vento.

Minha mente viaja enquanto minhas mãos te escrevem; onze anos se passaram!

Lembra quando brigávamos e terminávamos orando abraçados, e nossa casa de madrugada, ficava coberta de nuvens?

Quem passava na rua não nós via e nós não os víamos passar.

Poucas pessoas passaram na rua da nossa solidão e angústia.

Morávamos no mesmo lugar que moramos hoje, num lugar sem muros, sem fronteiras,

Morávamos e andávamos literalmente nas nuvens, e nos acolhíamos na neblina da noite.

Poucos souberam o que passamos.

Além de mim pouca gente faz ideia da grandeza que és tu.

Resolvi fazer-te um tributo, pois, reconheço que se tenho alguma coisa,
ou se sou alguma coisa, devo a Deus e a ti.

A viagem no tempo me traz ao presente, e sabe o que vejo em mim?

A indivisível força do desejo de ser para ti eu mesmo, teu marido, amigo e irmão, pai das duas jóias mais lindas da minha vida.

Não cuidar de vocês é negar a Deus e a mim mesmo.

Eu gostaria de saber e poder ser melhor.

Acredite, como eu gostaria.

As begónias ainda estão ali,
e em minha mente se inscreve uma palavra de amor: Manoelita”.

Em amor

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